É o pacto à portuguesa que a esquerda em Espanha exige

PSOE e Podemos Eles estão imersos em um complexo fala para o inauguração de Pedro Sánchez com o objetivo final de formar uma governo de esquerda estável em Espanha. Obstáculos e problemas contínuos que surgem após reuniões entre Sánchez E Pablo Iglesias Fazem-nos temer que este pacto não se concretize. No setores esquerdos Olham para Portugal e sonham em imitar o Pacto à portuguesaa aliança de esquerda que governa o país vizinho.


Em Portugal, a aliança que parecia impossível – desdenhosamente chamada de '“geringonça”– entre ele Partido Socialista (PS), Partido Comunista (PCP) e Bloco de Esquerda (BE)— acrescenta 122 dos 230 assentos no Parlamento português. E está prestes a concluir uma legislatura mais estável das últimas décadas.

Como é que este acordo, já conhecido como Pacto Português, se tornou realidade? Como é que as três partes geriram o acordo e a sua participação no Governo? Tentaremos explicar as chaves deste sucesso que a esquerda deseja ao governo espanhol.

Modelo invejoso

Voltamos a 2015, quando a coligação conservadora liderada por Pedro Passos Coelho -primeiro-ministro desde 2011- estava a um passo da maioria absoluta. Seu governo durou apenas 10 dias. O Partido Socialista (PS), penalizado pelas sondagens e relegado à oposição depois de ter pedido um plano de resgate de 78 mil milhões de euros, promoveu uma moção comum de censura da esquerda.


Sufocados pela crise, pelo desemprego e pelos cortes orçamentais, poucos acreditavam que um pacto de esquerda sem precedentes, que parecia inviável há apenas quatro anos, conseguiria tirar Portugal do buraco e transformar o país. modelo invejado pelos seus vizinhos.

Hoje, pela primeira vez na história democrática recente de Portugal, o Primeiro-Ministro pertence a um partido que não ganhou as eleições. E, segundo as pesquisas, voltará a governar após as eleições legislativas de outubro.

Pragmatismo e responsabilidade

Porque é que Portugal é o único país europeu onde uma aliança de esquerda resultou num governo estável? As respostas são múltiplas, mas os analistas concordam que além do dramático cenário económico de 2015 – com um país de onde a “troika” europeia tinha saído um ano antes e sufocado pela austeridade – o pragmatismo e responsabilidade dos líderes de esquerda Eles foram decisivos.

Assim, o Primeiro-Ministro desempenhou um papel fundamental, António Costa, filho de um líder comunista, um negociador habilidoso e com vasta experiência política. Durante a crise, distanciou-se da antiga direção do PS – queimada pelo resgate – e ascendeu à chefia do partido. Com experiência como presidente da Câmara de Lisboa (2007-2015), abraçou “a alternativa à austeridade” na sua carreira eleitoral.


Jerônimo de Sousasecretário-geral do PCP – único partido comunista que ainda se declara leninista – revelou-se também um político pragmático, capaz de fazer ceder certos dos seus princípios para derrubar a direita.

Dentro do Bloco, formado por correntes de esquerda que vão do marxismo aos anticapitalistas, a liderança de mulheres jovens, como Catarina Martinsmarcou a negociação.

Estacione as diferenças

Conscientes do abismo que os separava em questões fundamentais, como a Europa ou a NATO, as forças de esquerda eles deixaram de lado suas diferenças para selar um programa conjunto. “Deixaram de lado diferenças intransponíveis para priorizar o que os unia, que era o trabalho à direita”, afirma Boaventura de Sousa Santos, diretor emérito do centro de estudos sociais da Universidade de Coimbra.

Na agenda comum, aumento do salário mínimo, melhorias para os funcionários públicos, fim das privatizações, aumento das pensões, medidas contra o desemprego e aumento do investimento na saúde e na educação, entre outros.

Em nenhum momento, sublinha Sousa Santos, foi proposta a entrada do PCP ou do Bloco no Executivo. A aliança limitou-se a apoio parlamentar em troca do cumprimento do pacto.

Os socialistas respeitaram-na, em termos gerais, com episódios que testaram a fórmula, como a reforma laboral aprovada pela direita. “O Partido Socialista cedeu ao retorno mais rápido dos rendimentos, com aumentos do salário mínimo e recuperação dos salários dos funcionários. Os comunistas e o BE cederam na disciplina orçamental e na política europeia”, resume o sociólogo António Costa Pinto, do a Universidade de Lisboa. .

Os números do “milagre” português

De mãos dadas com a geringonça, Portugal tem superar a crise e fortalecer a estabilidade. Os números são esmagadores. Crescimento de 2,1% no ano passado, com défice de 0,5% do PIB e desemprego próximo dos 6%. Os salários e as pensões foram actualizados e as privatizações foram interrompidas.

A “troika”, intervindo com o dogma da austeridade, acabou por falar em “milagre” português. Um “milagre” que transcende fronteiras: o ministro das Finanças, Mário Centeno, lidera o Eurogrupo, António Guterres é secretário-geral da ONU e António Vitorino é presidente da Organização Internacional para as Migrações.

Diferenças com Espanha

Enquanto Portugal enfrenta as eleições legislativas do próximo mês de Outubro num clima de estabilidade, Espanha não consegue afastar o espectro de uma nova convocatória eleitoral. Por que isso não é possível Geringonça espanhola?, perguntam-se no país português.

Para começar, Portugal é uma república semipresidencialista e não tem nacionalismos nem partidas de extrema-direita nem muito à esquerda. Há também uma “diferença de situação”, segundo Costa Pinto. “Em Portugal, a unidade da esquerda respondeu à ameaça da direita e à procura da austeridade.” Este não é o cenário atual em Espanha.

Além disso, sublinha, “o crise do sistema partidário em Espanha foi mais dramático do que em Portugal” e o modelo partidário fragmentou-se.

Os protagonistas também são diferentes. “Pablo Iglesias afirma o presença no governoenquanto a esquerda portuguesa decidiu ficar de fora”, sublinha Sousa Santos. Entrar num governo, afirma Sousa Santos, “multiplica o possibilidades de ruptura “Em caso de desacordo e tendo em conta os problemas de autonomia de Espanha, as possibilidades de ruptura seriam particularmente grandes.”

Apesar das semelhanças ideológicas, as estratégias do BE e do Podemos são muito diferentes. Com 10% dos votos, “para crescer eleitoralmente, o Bloco moderou as suas posições”, explica Costa Pinto.

“Não é suficiente para um casamento”

Amparado pelo avanço socialista nas eleições autárquicas de 2017, o primeiro-ministro português admitiu no ano passado que as diferenças com os seus aliados “dificilmente podem ser ignoradas”. “Basta ser amigo, mas não para casar”, disse Costa.

Agora, três meses antes das eleições legislativas, o investigações Preveem uma vitória do PS, sem contudo revelar se obterá maioria absoluta ou se terá de voltar a chegar a acordo. Uma das últimas sondagens dá ao PS 39% dos votos, seguido do PSD de centro-direita (28%). Os comunistas e o BE reteriam 8% e 9%, respetivamente. E 27% dos eleitores apostariam na repetição da “geringonça”.

Teremos de esperar até Outubro para ver se os socialistas conseguem recuperar o seu estatuto único ou restabelecer a sua coabitação com a esquerda.

Alex Gouveia

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