Evo Morales diz que Europa deve se desculpar com indígenas e africanos

La Paz, 30 de março (EFE).- O ex-presidente boliviano Evo Morales disse nesta quinta-feira que os países europeus devem pedir “perdão aos povos indígenas e africanos”, depois que o Vaticano repudiou a chamada “doutrina da descoberta”, que protegia da Século XV da colonização da América e da África.

“Depois de mais de 500 anos, a Igreja Católica rejeita a chamada ‘Doutrina dos Descobrimentos’ que justificava genocídios, roubos e atrocidades contra os povos indígenas e africanos da colonização europeia”, escreveu Morales, considerado o primeiro presidente indígena da história da Bolívia, um dos países com maior população indígena.

“Nunca houve uma descoberta, houve uma agressão criminosa imperialista”, acrescentou em sua conta no Twitter.

“A ‘Doutrina da Descoberta’ não faz parte do ensinamento da Igreja Católica”, disse a Santa Sé em uma declaração conjunta do Dicastério (ministério do Vaticano) para a Cultura e Educação e Serviço ao Desenvolvimento Humano Integral.

Esta doutrina já desde finais do século XV, com várias bulas papais, lançou as bases para a conquista “em nome de Deus” da América e da África, por potências como os espanhóis ou os portugueses.

Por exemplo, o Papa Nicolau V com sua bula “Dum Diversas” (1452) concedeu “permissão total e gratuita” à Coroa Portuguesa para “capturar e subjugar sarracenos e pagãos” em sua expansão africana.

Já o pontífice Alejandro VI Bórgia abençoou com sua bula “Inter Caetera” (1493) a chegada dos espanhóis à América, um ano após a primeira viagem de Cristóvão Colombo, e estipulou a distribuição dos domínios, disputados entre Castela e Portugal.

Nesse sentido, Morales afirmou que “seria bom que os países europeus que fizeram fortuna com a colonização pedissem desculpas aos povos indígenas e africanos”.

“Tenham a dignidade de deter suas políticas colonialistas e intervencionistas. A Bolívia ainda se lembra das ações dos países europeus durante o golpe de Estado da (ex-presidente interina Jeanine) Añez”, disse.

Para o partido governista boliviano, a crise de 2019 foi um “golpe” contra Morales, enquanto para a oposição se deveu a uma fraude eleitoral para favorecer o então presidente e obter acesso a um quarto mandato consecutivo.

A relação entre a Igreja Católica e o governo boliviano já era tensa no governo Morales (2006-2019) e ficou ainda mais distante no governo do presidente Luis Arce.

Filipa Câmara

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