Pouco mais de um minuto, que durou o impasse entre a equipa do Ministério da Presidência e o pessoal protocolar da Comunidade de Madrid, eclipsou o acto institucional da dois de maio, dia da comunidade de Madrid. O momento em que o governo de Isabel Díaz Ayuso — intencionalmente — impediu Félix BolanosMinistro da Presidência, Relações com os Tribunais e Memória Democrática do Governo espanhol, ao subir à plataforma de honra reservada às autoridades desencadeou o mais recente confronto corpo a corpo entre os executivos nacional e regional.
O cruzamento de acusações foi difícil ao longo do dia de terça-feira. Para o governo, Díaz Ayuso saltou “os padrões mais básicos de nosso estado democrático e estado de direito”. “Lamentamos a instrumentalização política que o PP tem feito do partido Comunidade de Madrid, falhando mesmo no dever elementar de lealdade institucional”, afirmaram fontes governamentais, que apontaram directamente para a “violação” do Real Decreto 2099/1983em que se aprova a Ordem Geral de Precedência no Estado para permitir a presença de Alberto Núñez Feijóo e não de Bolaños.
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A verdade é que, apesar de o artigo 10.º do decreto real a que o governo se refere dar preferência aos ministros em detrimento do líder da oposição, a foto do pódio ficou assim: Isabelle Diaz Ayuso (Presidente da Comunidade de Madrid), vestidos de margarida (Ministro da Defesa), Alberto Núñez Feijóo (Presidente do PP), Jose Luis Martinez-Almeida (prefeito de Madri), Enrique Ossório (Vice-Presidente da Comunidade de Madrid), Eugenia Carballedo (Presidente da Assembleia de Madrid), Teodoro Lopes Calderon, comandante do exército
O executivo madrileno respondeu às críticas do governo, defendendo que Bolaños tinha comparecido ao evento como “acompanhante” e que o governo espanhol já estava representado na tribuna das autoridades pelo ministro da Defesa, que tinha convite. Mas, houve quebra de protocolo nas ações desse Dos de Mayo ou não? Especialistas dizem: não conformidade não, uso intencional sim.
“Esta ordenação foi feita corretamente”, garante em conversa telefónica com Público Geraldo Correas, Presidente da Escola Internacional de Protocolo. Segundo Correas, “é uma decisão do organizador” subir ou não o ministro da Presidência à tribuna porque “nada diz que ele deve estar lá”. Ainda assim, reconhece que o protocolo foi “usado para enviar a mensagem que eles querem enviar”. “Para todas as partes”, matiza, convencido de que as equipes protocolares do ministério e da Comunidade haviam acordado algumas horas antes que Bolaños não subiria ao pódio. Na verdade, essa decisão era pública desde a noite de segunda-feira.
Segundo Correas, o cumprimento do decreto real que, segundo o governo, é garantido pela presença do ministro da Defesa – “o chefe do Ministério da Defesa está à frente e por isso Bolaños está atrasado no ato geral”, explica – e a presença ou não do ministro da Presidência no palanque “São problemas pessoais de quem organiza o evento”. Ou seja, Ayuso separou Bolaños intencionalmente de “sua” foto.
Protocolo como “refém político”
É a mesma análise que faz Maria del Carmen Portugal Bom, jornalista especialista em protocolo e comunicação. “O governo foi representado pelo ministro da Defesa que tem relação direta com a parada militar. Não houve erro de protocolo nem pessoas que se perderam”, afirmou em conversa com este jornal. “Neste fórum quem decide é o presidente”, corta.
“O anfitrião é a Comunidade de Madrid e, portanto, convida e cancelar o convite“, coincide Diana Rubio, consultor e formador em protocolo. Ele concorda com seus colegas que não há violação clara do protocolo, mas acrescento: “Falha na cortesia do protocolo institucional”. “O que o anfitrião queria transmitir? Que ela é a chefe.” Os três especialistas ouvidos por este jornal concordam que o protocolo se tornou um “refém político” neste 2 de maio.
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