III Cimeira UE-Celac começa com grandes interrogações

Depois de oito anos sem fórum birregional, encontro de Chefes de Estado e de Governo regressa com temas como o combate às alterações climáticas, a transição ecológica, a transformação digital, a defesa dos direitos humanos das pessoas, a paz, a inovação e o combate contra as desigualdades.

São questões sem dúvida prementes, mas o passado recente põe em dúvida as relações de dominação que o Norte impôs ao Sul, o mais atingido pelas mazelas que assolam a humanidade.

Durante dois dias, líderes representando 60 países, 33 da Celac e 27 da UE, e mais de um bilhão de seres humanos, terão a oportunidade de construir um caminho comum para enfrentar os desafios.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, na qualidade de presidente pro tempore da Celac, moderarão os debates.

Se a UE está disposta a pôr de lado as imposições e os comportamentos reminiscentes do colonialismo e do neocolonialismo, terá de o mostrar e, de facto, acaba de dar o sinal em contrário.

Os europeus organizaram antes da III Cúpula, nos dias 13 e 14 de julho, um fórum sobre a sociedade civil birregional, no qual escolheram os convidados, os palestrantes e os temas, desencadeando críticas por falta de transparência e consenso.

Em declarações à Prensa Latina, o eurodeputado belga Marc Botenga defendeu um encontro que permita o desenvolvimento de laços de igualdade.

Estamos perante uma UE que tenta impor a sua vontade, uma política que defende os interesses das multinacionais, em vez de promover relações de igual para igual e ganha-ganha, comentou.

Segundo Botenga, a classe dominante da UE frequentemente adota posições paternalistas, longe de respeitar a soberania e o princípio do benefício mútuo.

É urgente inverter esta visão, daí a importância da Cimeira dos Povos, disse, referindo-se ao fórum que decorrerá paralelamente na Universidade Livre de Bruxelas.

A eurodeputada sublinhou que os movimentos sociais, sindicais e outros atores da sociedade civil europeia, latino-americana e caribenha vão unir-se neste encontro para que prevaleça o desejo de aproximação entre os povos.

Sobre a Cúpula dos Povos, o ativista brasileiro do Movimento dos Sem-Terra Rodrigo Suñe a considerou um encontro de vigilância e pressão para que os chefes de estado e de governo reunidos no outro fórum defendam laços de respeito à soberania e independência.

Não aceitamos mais relações que submetam nossa região a um passado neocolonial, daí a relevância de nossa cúpula de movimentos sociais, disse à Prensa Latina o membro do Secretariado da Assembleia Internacional dos Povos.

memória/wmr

Francisco Araújo

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