O actual cenário político não tem precedentes na democracia portuguesa. O Presidente da República nunca aceitou a demissão tardia de um Primeiro-Ministro. Mas é precisamente isso que ele pretende fazer. Marcelo Rebelo de Sousa. O Chefe de Estado realizou esta quarta-feira uma série de consultas aos diferentes partidos políticos para sair da crise política que se abriu terça-feira após a demissão do primeiro-ministro. António Costa, depois de o Ministério Público ter tornado pública uma investigação judicial contra si por alegadas irregularidades ligadas a concessões de exploração de lítio, a um projeto de construção de uma fábrica de hidrogénio e a um data center na cidade de Sines. Cinco perfis próximos do líder socialista foram detidos num caso paralelo incluindo o seu chefe de gabinete Victor Escariao Ministro da Infraestrutura, João Galambae o empresário Diogo Lacerda Machadoo confidente do primeiro-ministro.
O único deputado do Livro da Esquerda, Rui Tavares; o líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua; o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha; o secretário-geral do Partido Comunista, Paulo Raimundo; o presidente do partido de extrema-direita Chega, André Ventura; e o presidente do conservador Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro. Além do primeiro-ministro cessante. Todos pediram para ir às eleições, com exceção de Costa, que colocou na mesa do chefe de Estado quatro candidatos para o substituir e tirou à sorte nas urnas, segundo o jornal. Café expresso. Uma lista que incluía Mário Centeno, atual governador do Banco Central português, antigo presidente do Eurogrupo e antigo ministro das Finanças.
Agora Rebelo de Sousa tem duas opções. Dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas ou, pelo contrário, permitir que o Partido Socialista apresente outro candidato ao cargo de Primeiro-Ministro. Os nomes de Fernanda Medinagerente financeiro ou Mariana Vieira da Silva, Ministro da Presidência. Ainda que nas últimas horas o Presidente do Parlamento se tenha afirmado como uma figura de “consenso”, Augusto Santos Silvaum veterano que ocupou todos os cargos estaduais.
Este cenário já acontecia em 2004. O então primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso, deixou o chefe do governo para presidir a Comissão Europeia. Um destino que, paradoxalmente, parecia escrito para Costa. O conservador PSD propôs como substituto Pedro Santana Lopes. No entanto, parece improvável que Rebelo de Sousa explore este caminho. “A substituição de Durão Barroso já era muito controversa e o governo caiu ao fim de seis meses”, explica Manuel Loff, historiador e professor de estudos políticos na Universidade do Porto, em entrevista telefónica ao LA RAZÓN. “Este é o único precedente e funcionou mal.”
O chefe de Estado já deu pistas sobre qual poderá ser a sua decisão. Durante a inauguração do governo único de Costa, em março de 2022, declarou que a saída do socialista a meio do mandato levaria à dissolução da Assembleia. Loff considera que o presidente “foi muito claro quando declarou que essa maioria absoluta tinha sido obtida com um candidato ao cargo de primeiro-ministro que era António Costa, que também já governava antes das eleições”. O Parlamento deveria ser dissolvido.”
Antes, deverá reunir-se com o Conselho de Estado, órgão puramente consultivo da presidência cujas decisões não são vinculativas. Rebelo de Sousa convocou na quinta-feira os seus membros, incluindo o próprio Costa, ainda primeiro-ministro, uma vez que o presidente não aceitou oficialmente a sua demissão. Após a consulta, ele se dirigirá à nação para anunciar a decisão.
O calendário complica os projetos do chefe de Estado. Os orçamentos gerais do Estado continuam a ser processados. Então, de acordo com o jornal ObservadorRebelo de Sousa pretende adiar para depois de 29 de novembro a publicação dos decretos de destituição do governo e dissolução da Assembleia, mecanismo formal que permitiria aprovar os orçamentos de 2024. Ou seja, prolongar o mandato de um mês e duas semanas de Costa elaborará as contas do próximo ano.
A Constituição portuguesa estabelece um período mínimo de 55 dias entre a dissolução e a realização de eleições. O presidente tem a última palavra, mas em Portugal há uma média de três meses entre a demissão e a votação, pelo que as eleições poderão ocorrer em fevereiro. O Partido Socialista, agora privado de Costa, que anunciou que não voltaria a concorrer, teria tempo para cerrar fileiras.
Isso encerrará a era Costa. O primeiro-ministro tem despertado até agora amor e ódio na sociedade portuguesa, diz ao jornal Susana Rogeiro Nina, professora de ciência política na Universidade de Língua Portuguesa. “Na primeira legislatura houve um estado de graça prolongado. Não só porque foi graças a Costa e à sua política económica que os portugueses recuperaram os seus rendimentos e a economia se desenvolveu, mas também pelo que chamamos Geringonça e o fascínio pelos acordos de esquerda”, explica Rogeiro. “No segundo/terceiro, porque no segundo o Geringonça Isto falhou e houve eleições antecipadas em que o PS obteve maioria absoluta, Costa caiu em desgraça: escândalos com sucessivos ministros, greves no sector público, entre médicos e professores, etc.
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