As Ilhas Selvagens, uma área remota no meio do Atlântico que pertence ao arquipélago português da Madeira, tornou-se este ano a maior área marinha com proteção total da Europa e do Atlântico Norte, uma referência mundial no meio da corrida atrasada para proteger os oceanos.
Até agora, a reserva “Selvagens”, 250 quilómetros a sul da Madeira e que depende administrativamente deste governo regional, tinha uma área protegida de 95 quilómetros quadrados.
Este ano de 2022 viu este espaço multiplicado por 27, até 2.677 quilómetros quadrados, e lançou um regime de “protecção total” que proíbe todas as atividades extrativas, incluindo a pesca ou a exploração de materiais inertes.
Este é um passo que foi aplaudido por especialistas marinhos.
EXEMPLO A SEGUIR
“Mostra liderança, uma atitude diferente da que estamos acostumados a preservar nossos oceanos e serve de exemplo para outros líderes mundiais seguirem”, disse à EFE o biólogo Paulo Oliveira, do Instituto de Conservação, natureza e florestas da Madeira.
Em Las Salvajes, composta por duas ilhas principais e vários ilhéus, existem espécies endémicas mas é também uma zona de trânsito de espécies migratórias, como tubarões e atuns, que também permanecerão sob o novo guarda-chuva da proteção total.
Mas as áreas mais profundas da reserva ainda não são totalmente conhecidas, pelo que “não se pode excluir a possibilidade de algumas espécies de grande importância para a conservação da natureza”, diz Oliveira.
“Las Salvajes é um dos grandes exemplos de áreas marinhas protegidas”, reconhece a bióloga marinha Bárbara Costa e Horta, do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, que aponta à EFE que, ao contrário de outras áreas portuguesas, esta reserva dispõe de equipamentos de vigilância “in loco” 24 horas.
Apesar de ser uma zona “semi-virgem”, segundo Costa e Horta, os Salvajes têm sido sobretudo palco de alguma pesca industrial, vinda de locais como as Canárias, os Açores ou a costa africana, mas a partir de agora estas actividades será totalmente proibido.
Só são permitidas atividades “compatíveis” com os valores naturais das ilhas, como turismo de ciência e natureza de baixo impacto, investigação ou educação ambiental, sempre sujeitas a autorização.
PEQUENO IMPACTO NA PESCA
Do governo da Madeira, esperam que os impactos da nova área protegida entre os pescadores do arquipélago, que utilizavam as águas em redor dos Selvagens “residualmente” e principalmente para a pesca, sejam “mínimos”.
“Esta frota captura principalmente atuns, que são animais que migram e como tal não ficam dentro da nova reserva marinha”, explica Susana, secretária regional do Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas da Madeira, da EFE. .prada.
A Madeira está imersa nas comemorações dos 50 anos desta reserva natural, que incluem duas expedições às Ilhas Selvagens, uma de cariz político e outra mais centrada no trabalho científico.
Este último levará especialistas às ilhas para tirar uma “fotografia” de como a reserva comemora o seu 50º aniversário, para repetir em 50 anos e avaliar os progressos.
DEMORA PARA PROTEGER 30% DO OCEANO
A estratégia de biodiversidade da União Europeia visa que 30% dos oceanos estejam protegidos até esse ano, a mesma meta que está sendo negociada globalmente.
A melhoria aplicada aos Selvagens é um “grande avanço”, acredita o biólogo Costa e Horta, mas Portugal, tal como os restantes países, está “atrasado” nestes objectivos.
“Temos de acelerar”, exorta o especialista, que apela ao “reforço” dos compromissos através da “vontade política”.
Para já, o outro arquipélago português, os Açores, já se comprometeu a proteger 30% das suas águas, incluindo 15% em proteção integral.
“Precisamos mesmo de um oceano saudável, não só para a sua conservação mas para tudo o que dele depende”, diz Costa e Horta.
por Paula Fernandes
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