A saúde mental dos portugueses melhora graças à semana de quatro dias | Negócios

As utopias só deixam de ser utopias quando são superadas. Há mais de dois séculos, Robert Owen, fundador do movimento operário britânico e teórico do socialismo antes de Marx, confirmou a fórmula 888 (oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de lazer). Ele acreditava que a qualidade da produção de um trabalhador estava ligada à sua qualidade de vida. A sua fórmula consolidou-se nos países ocidentais, onde hoje se debate entre a desregulamentação do trabalho necessária desde finais do século XX e as novas utopias do século XXI que pretendem ir além do 888, ainda que o seu princípio fundador é o de Owen, que já defendeu mais de dois durante séculos.

A semana de quatro dias é a nova utopia tentada por vários países (Islândia, Reino Unido, Espanha e Portugal), gerando a mesma hostilidade e hilaridade que outrora foram provocadas pelas iniciativas de limitação da semana de trabalho a cinco dias e que foram criadas em Espanha em 1919 (só depois da Rússia) de forma inovadora. Na Bélgica, a semana de quatro dias já é uma opção para os trabalhadores, embora não implique uma redução do tempo de trabalho, mas sim uma concentração.

O estudo preliminar do projeto piloto português, que começou na fase teórica em setembro de 2022 e inclui mil colaboradores, confirma mais uma vez a ligação positiva entre colaboradores felizes e o seu desempenho profissional. 95% das empresas participantes no ensaio avaliaram as mudanças observadas como positivas. O mais significativo para os colaboradores é a melhoria da sua saúde mental, uma das grandes fragilidades da sociedade atual.

Três meses após o início do projeto piloto, todos os sintomas que alertam para a deterioração psicológica diminuíram entre os participantes: ansiedade (menos 21%), fadiga (23%), insónia (19%), estados depressivos (21%), tensão ( 21%) e solidão (14%). Segundo o relatório da professora de Gestão Estratégica de Recursos Humanos da Universidade de Reading, Rita Fontinhas, e do professor de Economia da Universidade de Londres, Pedro Gomes, mais de 85% dos trabalhadores melhoraram em pelo menos um destes indicadores. O ministério disse ter coordenado o projeto financiado para trabalho, solidariedade e segurança social.

Com mais tempo, os trabalhadores conseguiram dedicar horas à atividade física (a proporção dos que nunca praticaram caiu de 27% para 14,5%) e ficaram mais satisfeitos com seus relacionamentos pessoais. Os colaboradores que antes se queixavam da dificuldade de conciliar família e trabalho foram reduzidos ao mínimo. Embora quase metade dos inquiridos já tivesse tido dificuldade em combinar as duas tarefas, este número caiu posteriormente para 8%. A satisfação dos funcionários com a redução de jornada também foi medida pelo salário. Para ingressar em uma empresa onde teriam que voltar à semana de cinco dias, exigiriam um aumento salarial de pelo menos 20%.

O estudo final deste projeto, no qual participam 41 empresas e não beneficia de financiamento público, será apresentado em abril. “As empresas terão alguns meses para decidir se mantêm a redução, regressam à semana de cinco dias ou adaptam o formato”, explica Pedro Gomes. A redução da jornada semanal não conduziu a uma redução dos salários, mas conduziu a uma redução média da jornada de trabalho de 13,7%. A maioria das empresas optou por oferecer um dia de folga por semana. Para manter os ritmos de produção em prazos mais curtos, diversas estratégias organizacionais têm sido adotadas, como “reduzir reuniões, criar pacotes de trabalho ou introduzir novos softwares”.

Segundo o estudo, a maioria das empresas está empenhada em melhorar a sua gestão de recursos humanos. “O motivo mais citado é a redução dos níveis de estresse dos funcionários. Além disso, verifica-se que a medida contribui para a resolução de problemas específicos, como o aumento da capacidade de recrutamento e retenção de trabalhadores. “Muitas empresas veem isso como uma alternativa aos aumentos salariais.”

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Francisco Araújo

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