“Mais luz!” Estas foram supostamente as últimas palavras de Goethe e são o que muitos portugueses continuam a exigir até hoje. No entanto, na prática, eles já têm muitos. De acordo com vários estudos, a emissão de luz por pessoa em Portugal é cerca de quatro vezes superior à da Alemanha. Isso também ocorre porque, diante dos altos preços da eletricidade, a maioria dos municípios instalou lâmpadas de LED relativamente mais baratas.
“Corremos o risco de aumentar a poluição luminosa com menores custos de energia”, alerta o pesquisador Raúl Lima.
Um exemplo é o bairro de Celorico de Beire -localizado na fronteira com Espanha- que tem cerca de 7.000 habitantes e quase o mesmo número de postes de iluminação pública. Nos últimos anos sofreu um êxodo maciço dos seus habitantes para os centros urbanos da faixa costeira mas, em termos de iluminação, é muito atual. “Somos o primeiro distrito em Portugal a mudar completamente a iluminação pública para lâmpadas LED”, afirma com orgulho Ricardo Sousa, da administração municipal. “Ninguém aqui reclamou que há muita luz, é sempre o contrário”, acrescenta.
O físico Raúl Lima, da Universidade de Ciências Aplicadas do Porto, tem uma opinião diferente. “Ainda não há consciência da poluição luminosa em Portugal”, diz. Ele é um dos poucos cientistas que passou anos estudando o problema em Portugal. “Talvez porque na década de 1980 havia muitos lugares sem eletricidade ou iluminação pública, para muitas pessoas mais luz à noite significa progresso e segurança”, explica.
Mas, Faze quanto aos danos ao meio ambiente e à saúde humana que foram claramente demonstrados por estudos de outros países? “Para ser sincero, ainda não pensei nisso”, admite Sousa.
Poluição luminosa descontrolada
Os políticos em Portugal – com subsídios da UE – estão a transformar a noite em dia com cada vez mais luz. Existem padrões mínimos para a iluminação pública, mas não há limites máximos. E, claro, não há autoridade estatal para intervir em caso de excesso.
Na cidade de Salgueirais, no distrito de Celorico da Beira, por exemplo, parecem ter esquecido que muitas casas estão desabitadas. “Embora vivam aqui apenas três pessoas, agora há quatro lâmpadas em volta da minha casa”, queixa-se Cecilia Lisboa. “Eu posso ler o jornal na rua à noite, é como se fosse de dia”, diz ele. Segundo ele, ele só consegue dormir se fechar completamente as tradicionais persianas de madeira. “Isso não é progresso!” Ele grita.
“Mesmo morando aqui apenas três pessoas, agora há quatro lâmpadas em volta da minha casa”, reclama Cecilia Lisboa, de Salgueirais, Portugal.
Houve progresso, mas foi mal aplicado, diz Pedro Gomes Almeida, engenheiro aposentado e professor universitário que possui uma casa na cidade velha iluminada por LED de Celorico da Beira. Muitas lâmpadas de piso são muito altas e montadas no ângulo errado, o que faz com que a luz se difunda e também, na temperatura errada, muito fria. “É claro que também existem luminárias de piso de LED âmbar mais bonitas e quentes. Mas elas são mais caras e é por isso que as pessoas não as compram”, diz ele.
Um erro que provavelmente será compensado no futuro, alerta Raúl Lima, da Faculdade de Ciências Aplicadas do Porto.
Ricardo Sousa, por sua vez, continua feliz com a revolução da luz LED no seu bairro porque, afinal, agora há mais luz por menos dinheiro. A conta de eletricidade de € 500.000 foi reduzida em mais de € 50.000, o que se explica em parte pelo fato de todas as lâmpadas usarem apenas metade de sua capacidade, pois são tão brilhantes.
E embora o bairro Celorico da Beir pudesse ter muito mais luz, a verdade é que também poderia ter menos.
(ng/s)
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