Lisboa, 6 jan. Apenas nove meses depois de assumir o seu primeiro governo com maioria absoluta, o socialista António Costa enfrenta uma crise interna que levou o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, a avançar para exigir estabilidade política.
Costa não poderia imaginar que em sua terceira legislatura – a primeira por maioria esmagadora – ele acumularia uma dezena de vítimas de destaque e uma série de escândalos que o colocariam na corda bamba.
Ele acaba de votar a segunda moção de censura contra ele, mas vive sua “hora mais baixa”, concordam analistas locais, no início de um ano marcado por tensões políticas.
A última tempestade tomou conta de Carla Alves, que pediu demissão do cargo de secretária da Agricultura um dia depois de assumir o cargo, quando a imprensa descobriu a penhora de contas bancárias conjuntas com o marido, ex-prefeito acusado de corrupção e prevaricação.
REDEFINIR O CURSO
“O governo entrou numa tal paralisia que se a oposição não se preparar, podemos ter um grande impasse”, sublinharam fontes da presidência ao jornal Expresso, que revelam hoje que Marcelo Rebelo de Sousa dá um ano na Costa para consolidar a estabilidade antes de pensar em um possível avanço eleitoral.
“Só o governo pode enfraquecer a estabilidade política” e seria “imperdoável atrapalhar 2023”, alertou esta semana o Presidente de Portugal, convicto de que o novo ano é decisivo para ultrapassar as consequências da pandemia e da guerra contra a Ucrânia.
Por parte do governo, minimizar o desentendimento entre o presidente e o primeiro-ministro. Não há ultimato para Rebelo, “existe uma relação óptima” entre os dois, afirmou hoje o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.
“Sabemos que estas semanas não têm sido fáceis”, admitiu Mariana Vieira da Silva, braço direito de Costa no Gabinete.
CAS, CAS
“Não podemos e não devemos normalizar situações anormais, mesmo que sejam casos e ‘pequenos casos'”, disse António Costa esta quinta-feira ao Parlamento.
Esses “casitos” precipitaram uma cadeia de renúncias – dois ministros e uma dezena de secretários de Estado (vice-ministros) – e uma crise interna sem precedentes nas três legislaturas de Costa.
O colapso sanitário levou à demissão do ministro da Saúde. O seu substituto, Manuel Pizarro, estreou-se em setembro com críticas pela sua atividade como consultor privado no setor.
Em novembro, Costa incorporou Miguel Alves como subsecretário de Estado. Indiciado por procrastinação, o ex-prefeito foi obrigado a renunciar semanas depois.
Mais divisiva foi a saída de Pedro Nuno Santos, apontado como um golfinho da Costa, que deixou as Infraestruturas no final do ano após a nomeação para secretário de Estado de um antigo administrador da TAP compensada em meio milhão de euros.
Seu substituto, João Galamba, foi apontado pela mídia local por tráfico de influência.
Mas os escândalos não param por aí. A oposição exige a demissão do chefe da Agricultura e uma explicação do novo secretário de Estado do Ambiente, Hugo Pires, que, segundo a imprensa portuguesa, terá vendido uma empresa a um lobby do lixo urbano.
MAIORIA ABSOLUTA, NÃO PODER ABSOLUTO
“Maioria absoluta não é poder absoluto, não é governar sozinho”, prometeu Costa após seu triunfo eleitoral. “Um dos desafios desta legislatura é conciliar os portugueses com a ideia de maioria absoluta e de que a estabilidade é boa para a democracia e não uma ameaça”, afirmou.
Nove meses depois de tomar posse, António Costa aprovou duas moções de censura da direita, a última na quinta-feira.
No debate, defendeu com veemência o secretário de Estado da Agricultura, que acabou por demitir-se depois de o Presidente português ter denunciado o “peso político negativo” do caso.
Membros do governo admitiram livremente esta semana que a situação dos candidatos a altos cargos não estava sendo investigada e Costa tentou remediar isso propondo um sistema de votação na quinta-feira que não pareceu tranquilizar a oposição.
Visivelmente irritado, o líder socialista quis resolver a questão no Parlamento: “Como se avalia realmente um governo? Pela sua composição ou pelos seus resultados?”, perguntou à oposição. mar marinheiro
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