Dina Boluarte | Silêncios e meias-verdades numa sessão sobre DD. HH. com as Nações Unidas | Forças Armadas | Ayacucho | Repressão | Governo

Evasivo. O ministro José Tello esteve presente apenas no início e depois retirou-se da reunião virtual sem dar respostas claras à ONU. Foto: transmissão | Foto: transmissão

Autoridades e funcionários do Peru evitaram ontem responder claramente ao Comitê de Direitos Humanos da As Nações Unidas sobre questões específicas relacionadas com o uso excessivo da força pública e crimes contra civis, no âmbito do estado de emergência decretado pelo regime Dina Boluarte. Havia apenas generalidades, silêncios e meias-verdades.

Tudo isso aconteceu durante a primeira das três sessões de balanço conduzidas pelo referido comitê da UN em Genebra. A representação peruana participou virtualmente.

Nesta primeira reunião, o comissário representante do Chile, Hernán Quezada, fez perguntas diretas sobre o uso da força pública durante o protestos social.

Uma questão específica dizia respeito ao papel das forças armadas em situações de emergência. Apesar da relevância da pergunta, ela só foi respondida por um funcionário do Departamento de Defesa.

No início da reunião, o ministro da Justiça, José Tello, tinha participado, mas depois optou por ir ao Palácio e não acompanhou a importante sessão da ronda de perguntas.

O coronel do Exército Gérber Gary Rubio Álvarez, diretor de políticas e estratégias do Ministério da Defesa, referiu-se apenas ao Decreto Legislativo 1.095, que regulamenta o uso da força em território nacional.

O militar sustentou que o referido decreto “possibilitou a correta atuação dos militares do Forças Armadas pela sua participação na manutenção e restabelecimento da ordem interna (…), no pleno respeito dos direitos humanos”.

Naquela época, o comissário chileno já havia mencionado as mortes em Ayacucho como produto da repressão dos militares.

Jenni Dador, secretária-executiva da Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos (CNDDHH), localizada precisamente em Genebra, rejeitou tal versão, em entrevista por telefone ao A República.

“Como podem dizer que houve respeito irrestrito aos direitos humanos se todos sabemos, pelo que vimos e pelas autópsias, havia um padrão de execuções extrajudiciais, e usamos um instrumento de guerra que era proibido e contra pessoas que nem participavam das manifestações”, protesta o especialista.

Consultada sobre o assunto, a parlamentar cusquenha Ruth Luque, que acompanhou vários feridos nas manifestações, também rejeitou a versão que o exército está tentando dar.

“O elevado número de mortos e feridos explica o impacto e a força da violência excessiva perpetrada pela polícia e pelas forças armadas”, afirmou.

omissão policial

Outro servidor que interveio ontem foi o chefe da região policial de Lima, general Víctor Zanabria Angulo. Na sua apresentação, falou de generalidades sobre o respeito pelas normas internacionais nas intervenções da Polícia Nacional.

Noutro ponto, referiu-se aos comandantes e à eventual responsabilidade política do Ministério do Interior, neste sentido apontou que existem “duas comissões instituídas no Congresso da República”.

A verdade é que o Congresso, ao contrário, tem retardado o funcionamento de comissões investigativas desse tipo. Uma revisão foi votada na quinta-feira e até hoje não há sequer uma comissão instalada.

O general Zanabria evitou responder à entrada da polícia nas instalações da Universidade Nacional de San Marcos e na sede da Confederação Camponesa do Peru.

Isso gerou notório desconforto para o comissário do Chile, Hernán Quezada, que insistiu para que lhe fornecessem informações concretas.

E ele não era o único chateado. Bem, a sessão também cobriu outras políticas gerais da Governo Peruano em direitos humanos.

“Não recebemos informações muito precisas sobre algumas das minhas perguntas”, disse o Comissário José Santos (Portugal). “Não recebi nenhuma informação, portanto, não me é possível fazer perguntas de seguimento”, alertou também Carlos Gómez (Espanha). A sessão em Genebra continuará nos dias 6 e 7 de março.

reações

Jenni Dador Tozzini, sec. executivo CNDDHH

“Como podem dizer que houve respeito irrestrito aos direitos humanos se todos sabemos pelo que vimos e pelas autópsias que houve um padrão de execuções extrajudiciais.”

Ruth Luque Ibarra, deputada

“Há também um fato muito grave. Como membro do Congresso, solicitei os relatórios da Defesa que viabilizavam as Ordens Executivas de Emergência e fui informado de que essas informações eram sigilosas.

Alex Gouveia

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