sexta-feira, 26 de maio de 2023, 01:48
Repentinamente adiado por motivos de saúde o concerto agendado para 11 de março na Sala BBK de Bilbau, que se tinha esgotado na pré-venda, esta quinta-feira, 25 de maio, realizou-se finalmente o encontro marcado, anexo ao décimo ciclo Noites de Fado, com Dulce Pontes, que realizou um concerto de sexteto de 16 canções em 107 minutos, que também abriu e fechou abruptamente. Primeiro, com a saída surpresa do palco da cantora cumprimentando e dedicando o encontro a Kepa Junkera (presente na sala), e segundo, o encerramento do bis duplo com a igualmente inesperada interpretação de ‘Maitia nun zira’ que gravou com Kepa. Era um tema cantado timidamente pelo público idoso, tanto que nos perguntávamos: esse público também vinha vê-la há 30 anos ou Dulce só gostava de velhos? Bem, os velhos têm dinheiro para ir a um concerto de vez em quando.
O concerto começou cultivado e elitista (parecia desenhar uma bolha hermética que a isolava dos mortais nas tribunas) e acabou por derivar para o populista, nomeadamente pelos três momentos entoados: o já referido Junkerian e antes dois outros com o Diva arranhadora da interação portuguesa. A ousada Dulce José da Silva Pontes, nascida no Montijo há 54 anos, iniciou um dueto, ela ao piano e Luis Miguel Nunes Guerreiro na guitarra portuguesa, encadeando três peças elevadas que combinam a técnica vocal lírica e o sensacionalismo New Age ( o terceiro era ‘Ondéia’). E agora com a formação completa, um sexteto com bateria (embora o percussionista saia com frequência), Dulce ousa improvisar jazz (sempre étnico), dedilhando sotaques junkerianos (havia espaço para sanfoneiro no sexteto), e era étnica e etérea, exótica pela atmosfera e franqueada pela sanfona.
Ela não estava fria e tentando se conectar com a multidão, mas muito ambiente e um tanto distante, esta primeira parte de 6 faixas fluiu com demonstrações vocais da portuguesa, levando o arrulho a alturas tão elevadas que um espectador anônimo saindo do BBK descreveu eles os classificaram como “estridentes”, embora a maioria dos participantes tenha dito que havia sido um show “lindo”. Neste segundo tempo, Dulce especificou o songbook e ficou íntimo dos respeitáveis, mas à custa de ser populista com os backing vocals.
A melhor faixa foi a sétima, o fado ‘Nosotros’ (ou algo parecido), para se materializar na canção e não evaporar no ambiente ou nos figurinos, e também alcançou marcos através de um morriconiano ‘Meu amor sem Aranjuez’. e na valsa de algo ‘Poppy’, antes de continuar um concerto aparentemente feito para o verão ao ar livre através de jazz étnico improvisado (e Dulce dançando e mostrando a perna por baixo do vestido, pois embora descalça usava tornozeleiras). E este bis duplo abriu com ‘Canción de mar’, da incomparável maestro fadista Amália Rodrigues, e encerrou com o aceno junkeriano basco, como já dissemos.
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