“Fui diagnosticado com esclerose múltipla aos 26”: por que essa doença afeta mais mulheres jovens

“Fui diagnosticado com esclerose múltipla aos 26”: por que essa doença afeta mais mulheres jovens

Em 2015, com apenas 24 anos, a técnica de segurança do trabalho Jocilene Emanuele Medina deu entrada no pronto-socorro de Dores, Minas Gerais, Brasil, após um episódio de vômito, tontura e desequilíbrio.

Após uma consulta médica e alguns exames, Medina foi encaminhada a um otorrinolaringologista onde foi diagnosticada com labirintite, uma irritação e inchaço no ouvido interno que pode causar tonturas e perda auditiva.

Manu, como é mais conhecida, seguiu o tratamento indicado, mas deles os sintomas não melhoraram e começou a perder a visão do olho esquerdo.

Preocupada, ela consultou um oftalmologista. “O médico percebeu que eu estava com uma inflamação no nervo óptico e resolveu me internar imediatamente. Fiquei com medo. Não imaginava a gravidade do meu caso”, diz ela.

Em 15 dias de internação e com vários exames realizados, os médicos não encontraram resposta.

Foi somente após um ano e meio de pesquisa que recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla.

“Fiquei pasma. Acho que a fase inicial do diagnóstico é a mais difícil para o paciente. Ter acesso ‘fácil’ às informações na internet é ainda mais desesperador”, diz Manu.

pacientes jovens

A esclerose múltipla é uma doença neurológica, crônica e autoimune na qual as células de defesa do corpo atacam o sistema nervoso centrallesando o cérebro e a medula espinhal.

30 de maio é o Dia Mundial da Esclerose Múltipla, data escolhida para conscientizar a sociedade sobre esta doença.

De acordo com o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, é mais comumente diagnosticado em pessoas na faixa dos 20, 30 e 40 anosEmbora possa se desenvolver em qualquer idade. É duas a três vezes mais comum em mulheres do que em homens.

A causa da doença e por que ela é mais comum em mulheres jovens permanecem questões em aberto para a ciência.

Uma teoria é que o flutuação hormonals durante os anos reprodutivos eles poderiam influenciar a resposta imune e aumentar o risco de desenvolver a doença em mulheres.

Outros estudos sugerem que essa suscetibilidade aumentada pode ser devida a um componente genético.

Além disso, as mulheres tendem a gerar uma resposta imunológica mais forte, o que pode contribuir para uma maior atividade inflamatória no sistema nervoso, aumentando o risco de desenvolver a doença.

Manu torna visíveis os desafios que enfrenta diariamente por meio das redes sociais.

Longe de demência

A esclerose múltipla não é um tipo de demência como algumas pessoas pensam erroneamente.

Segundo o neurologista e coordenador médico do Centro de Excelência em Esclerose Múltipla do Hospital Israelita Albert Einstein, Rodrigo Thomaz, a palavra “esclerose” refere-se ao “endurecimento” que ocorre no cérebro e na medula espinhal dos pacientes.

“Você pode ver a formação de pequenas cicatrizes que endurecem ao toque.”

A esclerose múltipla é caracterizada por danos neurológicos. Em indivíduos afetados, células imunes começam a atacar em vez de proteger o sistema imunecausando inflamação.

Elas afetam a bainha de mielina, uma espécie de bainha protetora que recobre os neurônios responsáveis ​​por transportar os impulsos do sistema nervoso central para o corpo e vice-versa, o que compromete as funções coordenadas pelo cérebro.

Além dos fatores específicos que ligam as mulheres à doença, também são consideradas pessoas com predisposição genética para doenças autoimunes expostas a fatores ambientais, como infecções virais, tabagismo, obesidade e níveis reduzidos de vitamina D. risco.

“Reduzir o risco de desenvolver esclerose múltipla é questionável, pois a doença tem um componente genético que aumenta o risco de comprometimento do funcionamento do sistema imunológico. No entanto, o controle de fatores ambientais pode interferir nas chances de apresentar a doença”, diz Claudia Vasconcelos, coordenadora do Departamento Científico de Neuroimunologia da Academia Brasileira de Neurologia.

sintomas mais comuns

  • Fadiga (fadiga intensa e às vezes incapacitante)
  • Distúrbios da fala (fala lenta, palavras arrastadas e voz trêmula)
  • Dificuldade em engolir líquidos, pastas e sólidos
  • Distúrbios visuais (visão dupla ou turva)
  • Perda de equilíbrio
  • Problemas de coordenação motora Marcha instável
  • tremores
  • Tonturas e náuseas
  • Incontinência ou retenção urinária
  • Distúrbios cognitivos
  • Distúrbios emocionais (depressão, ansiedade, irritação)
  • Espasticidade (rigidez de um membro em movimento, afetando principalmente os membros inferiores)
  • Disfunção erétil em homens e diminuição da lubrificação vaginal em mulheres

“Esses sintomas ou sinais de possível esclerose podem ser transitórios, duram alguns minutos e desaparecem, por isso o paciente não dá muita importância a eles. Portanto, diante de qualquer sinal, por menor que seja, é aconselhável consultar um neurologista para investigue”, explica Alex Machado Baêta, neurologista da Assistência Social Portuguesa em São Paulo.

Manu, a paciente brasileira, usa as redes sociais para falar sobre os desafios que enfrenta.

“A falta de informação gera preconceito. Como não é uma doença visível, a sociedade não vê minhas necessidades. Às vezes, por fraqueza e exaustão, preciso usar a fila preferencial e as pessoas não veem isso como bom. Então, quando eles entendem, eles olham para mim com dúvida ou pena. Precisamos falar mais sobre a doença”, acrescenta.

tratamentos disponíveis

A esclerose múltipla é incurável.

Os tratamentos disponíveis visam estabilizar e interromper a atividade inflamatória ao longo do tempo para melhorar a qualidade de vida do paciente.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, existem atualmente cerca de 20 medicamentos aprovados.

Para Manu, os piores dias foram os que se seguiram ao diagnóstico.  Hoje procura levar uma vida saudável além de seguir os tratamentos indicados.

Para Manu, os piores dias foram os que se seguiram ao diagnóstico. Hoje procura levar uma vida saudável além de seguir os tratamentos indicados.

Especialistas afirmam que, além do tratamento medicamentoso, é importante que seja feita a neurorreabilitação para prevenir complicações como deformidades ósseas.

“São medicamentos imunossupressores que regulam as reações do sistema imunológico. Além do tratamento específico para controlar a doença, são utilizados medicamentos e técnicas para aliviar e controlar os sintomas”, diz Thomaz.

“Atualmente existe uma verdadeira revolução no tratamento e prognóstico da doença, com risco muito menor de sequelas e progressão degenerativa. O objetivo atual é evitar ao máximo que o cérebro e a medula espinhal sejam “invadidos” pela doença, diminuindo assim o risco futuro dos pacientes”, acrescenta o neurologista.

No caso de Manu, o tratamento inclui acompanhamento com reumatologista para alívio de sintomas articulares e musculoesqueléticos, reposição de vitamina D e foco na saúde mental, acompanhamento com psicólogo e uso de medicamentos para controlar a ansiedade.

“Também procuro ter cuidado com a alimentação, evitando alimentos inflamatórios e praticando atividades físicas de baixo impacto, como natação e hidroginástica”, diz.

“A esclerose múltipla é como um parceiro de dança que sempre fico de olho para não pisar no pé. Viver com a doença é uma caixinha de surpresas, todo dia é um novo desafio e nunca sei com que sintoma vou acordar . com.”

Francisco Araújo

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