Igreja portuguesa ‘esconde’ vítimas de abusos na JMJ em Lisboa

“Os bispos não acreditam no que as vítimas lhes dizem, mas acreditam nas crianças que dizem ter ouvido a senhora falar de uma árvore”. António Grosso, sobrevivente da pedofilia clerical na Igreja portuguesa, critica duramente a decisão da Conferência Episcopal do país de não dar espaço oficial ao tema da pedofilia durante a celebração das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), que de 1 a 1 de agosto. O evento n°6 trará mais de um milhão de jovens (incluindo cem mil espanhóis) a Lisboa, na presença do Papa Francisco.

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Um Papa que, além de se encontrar com os jovens, visitará o santuário mariano de Fátima, onde, segundo a história de três pastorinhos, a Virgem lhes apareceu em 1917, fazendo deste prado um dos maiores centros de peregrinação católica, ao lado de Lourdes, Guadalupe, Santiago, Roma ou Jerusalém. Estes pastores são as “crianças” de que fala Grosso, promotor do Corazón Silenciado, a primeira associação de vítimas de abusos em Portugal.


Não há lugar para vítimas na JMJ, um evento que, poucos dias antes do seu início, apresenta evidentes problemas de organização e segurança (Lisboa triplicará a sua população, sem ter escolhido enclaves suficientes para a chegada massiva de peregrinos à capital portuguesa), e uma controvérsia sobre as vítimas de abuso.

Em Portugal, uma comissão independente já publicou um relatório que destaca a existência de cerca de cinco mil vítimas de abusos entre o clero português nas últimas décadas. Os dados geraram um pedido histórico de perdão agora obscurecido por esta ocultação do grupo prejudicado.

Mudanças após o perdão

Alguns meses depois, as coisas mudaram muito. Dioceses como o Porto têm-se recusado sistematicamente a sancionar padres abusivos, alegando questões de prescrição. O desejo – manifestado pela maior parte do episcopado português – de indemnizar as vítimas foi negado pelo seu principal responsável, o Cardeal Clemente (Patriarca de Lisboa, cuja cessação está prevista logo após a viagem papal), que garantiu à Igreja que apenas pagaria indemnização se a justiça o obrigasse a fazê-lo.

“Tudo o que puder ser feito de acordo com a lei será feito de acordo com a lei. Mas não esperem que façamos mais nada, porque não podemos fazer mais nada”, frisou o cardeal, salientando que, segundo a lei portuguesa, o responsável por qualquer indemnização é o agressor e não a vítima. ele pertence.. Ele também descreveu como “insultuoso” o fato de oferecer reparações às vítimas. Ainda mais: foi até alegado que nenhum sobrevivente havia pedido explicitamente indenização, o que instituições como o Corazón Silenciado demonstraram ser falso.

homenagem pública suspensa

A gota de água que fez transbordar o copo foi a decisão da Conferência Episcopal Portuguesa de paralisar uma anunciada homenagem às vítimas de abusos durante a JMJ. O ato previsto era a inauguração de um memorial em memória dos sobreviventes da pedofilia clerical. Qualquer referência oficial a vítimas de abuso em discursos também foi removida.

O Papa Francisco quis distanciar-se destas decisões. Bergoglio, como em todas as suas viagens, reunir-se-á em privado com vítimas de abusos, embora se suponha que também haverá referências à pedofilia na Via Crucis que terá lugar na sexta-feira, 4 de agosto, no parque Eduardo VII da capital portuguesa. , como durante a grande vigília da noite de 5 de agosto no Parque do Tejo.

“O programa não faz qualquer menção aos abusos sexuais na Igreja Católica, tema frequentemente abordado pelo próprio Papa Francisco e que está na ordem do dia neste país”, denunciou Grosso em entrevista à EFE. “Queremos ouvir dos bispos portugueses o que já ouvimos do Papa Francisco, nomeadamente que é preciso continuar a lutar contra os crimes e os abusos sexuais na Igreja Católica e que o caso não pare durante estes cinco dias em Portugal, na medida em que o caso não faz parte do programa oficial”, continua Grosso.

Francisco viajará a Portugal no dia 2 de agosto, para uma visita durante a qual sobrevoará solo espanhol de ida e volta. Fontes do Vaticano não excluem que o Papa se refira a casos de abusos no nosso país – numa altura em que a auditoria encomendada pelos bispos ao escritório de advogados Cremades&Calvo Sotelo já deveria ter sido entregue à Conferência Episcopal, e com a resolução do processo canônico do “caso Gaztelueta” em andamento–. Um vazamento logo após o novo acordo político nascido das eleições gerais de 23-J.

Todas as informações em www.religiondigital.org

Francisco Araújo

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