Lisboa (EFE).- A Revolução dos Cravos em Portugal, que celebra quinta-feira o seu 50º aniversário, significou também a libertação e o reconhecimento dos direitos laborais dos futebolistas profissionais, que até 1974 estavam sujeitos à “Lei de opção”. da ditadura de António Salazar.
O caso mais singular, como lembra à EFE o lendário futebolista e treinador português dos anos 70 João Alves, foi o de Eusébio.
O jogador do Benfica, clube que era então um dos maiores da Europa, teve ofertas muito relevantes para sair de Portugal e ingressar em equipas como a Juventus de Turim ou o Inter de Milão.
No entanto, “não deixaram”, lembra Alves, porque não poderia sair se os clubes não aceitassem. Neste caso, a possível transferência para Itália da “pantera negra” chegou a tal ponto que tanto o primeiro-ministro da época, Marcelo Caetano, como o próprio ditador António Salazar tomaram medidas na matéria, impedindo a sua saída da equipa lisboeta. .
‘Lei de opção’ que te vinculou ao clube
Salazar, que não era propriamente um “fã de futebol”, estava no entanto consciente da popularidade do desporto, pelo que as autoridades políticas estabeleceram legislação que permitiria aos clubes de futebol manterem a sua filiação sem custos excessivos.
Desta forma, os bilhetes de futebol tinham um custo reduzido, uma vez que a selecção portuguesa não podia arcar com grandes excessos. Foi a fórmula que permitiu aos clubes da primeira divisão manterem os jogadores de futebol no seu plantel durante o tempo que quisessem.
De acordo com a ‘Lei de opção’, caso outra equipa de futebol pensasse em contratar o jogador, bastaria que o clube mantivesse um depósito de 60% sobre o salário oferecido pela equipa que tentou adquirir o futebolista.
Foi esta lei que foi revogada pela primeira vez após a Revolução dos Cravos e o fim de Salazar.
Desde 1974 que já existia um movimento sindical dos futebolistas “e muita gente lutou pelos seus companheiros” para acabar com este tipo de leis, como recordou João Alves, jogador lendário que, anos depois, deixou Portugal e assinou pelo antigo clube. UD Salamanca (Espanha), do qual também foi treinador.
Da escravidão à liberdade
O presidente do Sindicato dos Futebolistas Portugueses, Joaquim Evangelista, explica em entrevista à EFE que esta lei “escravizou” o jogador de futebol, porque “ele não era um trabalhador com direitos e obrigações”.
Porém, por volta de 1972, grandes figuras do futebol português decidiram lutar para pôr fim a esta situação, como os futebolistas da época e, mais tarde, as figuras do futebol mundial, Artur Jorge ou o próprio Eusébio.
Uma das chaves foi o apoio que receberam naquele ano de Jorge Sampaio, então advogado, que décadas mais tarde serviu como Presidente de Portugal (1996-2006).
Liberdade em questão, 50 anos depois
Obtida a abolição desta lei, Joaquim Evangelista reflecte sobre a situação actual dos futebolistas profissionais, cuja liberdade, garante, “ainda está em causa” e os seus “direitos em perigo”.
Para o presidente do sindicato português, em todo o mundo, os jogadores de futebol estão, hoje, “instrumentalizados”, com agendas muito ocupadas, por exemplo.
Porém, o lado positivo do futebol é que é um grande “transformador social”, que também desempenha um papel muito importante na luta pela igualdade, conclui Evangelista.
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