Lisboa, 19 jul (EFE).- As buscas que as autoridades portuguesas realizaram na semana passada na sede do PSD (centro-direita), líder da oposição, e na casa do seu ex-presidente Rui Rio depararam-se com justiça e política em Portugal, onde vários partidos qualificaram a intervenção de injustificada.
O caso saltou na passada quarta-feira com os autos apurados pela Polícia Judiciária (PJ) portuguesa por suspeita de peculato e abuso de poder por desvio de fundos do PSD.
As autoridades procuravam indícios de um alegado esquema de pagamento de salários de militantes partidários com fundos da Assembleia da República que deveriam ser destinados exclusivamente a cargos de assessoria de grupos parlamentares.
Pagamentos que não são ilegais e que são feitos “por todas as partes”, segundo defendeu aos jornalistas o próprio Rui Rio, protagonista de um programa mediático à frente das câmaras.
Enquanto a polícia revistava sua casa, Rio falava para as televisões do terraço de sua casa, brincando e até brincando que estava ‘morrendo de medo’, pois iriam descobrir tudo o que havia roubado, um sinal de quão pouco preocupado ele sentia desencadeou a operação.
O ex-líder conservador voltou a defender-se nos dias seguintes: – “O grupo parlamentar não é uma coisa e o partido outra, não são duas entidades diferentes”, declarou em entrevista ao canal SIC, na qual apelou a mudanças no judiciário porque o Ministério Público estava “atacando” a democracia.
CRÍTICA SOCIALISTA
Mas as críticas não ficaram no Rio ou no próprio PSD – que enviou uma carta à procuradora-geral da República, Lucília Gago, pedindo explicações sobre a “desproporcionalidade” da atuação das autoridades -, mas chegaram aos outros lado do espectro político.
O ministro da Cultura, socialista Pedro Adão e Silva, disse estar “perplexo” com a atuação das autoridades, enquanto a ex-ministra Alexandra Leitão, também socialista, criticou o “sensacionalismo excessivo”.
O ex-líder do mesmo partido, Francisco Assis, foi mais longe, dizendo que a operação era um “ataque às instituições democráticas portuguesas”.
O caso também atingiu dois dos maiores números do estado.
O presidente da Assembleia da República, socialista Augusto Santos Silva, exigiu explicações do Ministério Público e considerou que foi cometido um “crime directo” ao transmitir as gravações na televisão.
Nessa mesma quarta-feira, Santos Silva considerou que existe uma ligação entre a atividade política dos partidos e a dos grupos parlamentares e descartou a existência de financiamento abusivo, tendo deixado nas mãos das formações a possibilidade de o Parlamento convocar o Procurador Em geral.
EVITE “GUERRA”
Perante estas críticas, o Presidente de Portugal, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa, apelou hoje ao “bom senso” para evitar transmitir aos portugueses que há uma “guerra” entre os poderes político e judicial.
“Os cidadãos podem perder a confiança tanto se estiverem convencidos de que há instituições que vão longe demais nas suas acções como se houver instituições que parecem querer evitar o controlo ou o escrutínio”, disse – declarou.
Deixou, no entanto, a sua “interpretação” da lei em causa: “é um pouco difícil” estabelecer fronteiras entre o trabalho dos grupos parlamentares e o dos partidos.
Por sua vez, o sindicato que representa os magistrados do ministério público defendeu os fatos e acusou a classe política de querer “interferir” nas investigações judiciais. ECE
pfm/mah
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