Pesquisadores da Universidade de Córdoba estudaram as relações entre as duas principais espécies de fungos responsáveis pela antracnose (Colletotrichum godetiae E Colletotrichum nymphaeae) na península para entender melhor seu comportamento e ter mais ferramentas para lidar com esta doença da oliveira. Os resultados sugerem que os patógenos, uma vez estabelecidos, são difíceis de mover mesmo por agentes mais competitivos.
A antracnose da oliveira é causada por diferentes espécies do gênero Colletotrichum (Até agora, dezoito espécies deste fungo foram identificadas como agentes causadores da doença.) Em cada região olivícola, existe uma espécie dominante e muitas espécies secundárias. Em Espanha, a dominante é C.godetiae, que afeta uma variedade sensível muito difundida no país, como a ‘Hojiblanca’; enquanto em Portugal se destaca C. nymphaeae, que afeta a cultivar ‘Galega Vulgar’, muito característica deste país. Para descobrir quais relações competitivas levam certas espécies a dominar certas regiões e não outras, uma equipe da Unidade de Excelência María de Maeztu – Departamento de Agronomia da Universidade de Córdoba estudou as relações entre essas duas espécies. Os resultados foram publicados em Relatórios científicos.
Em todos os testes realizados, as espécies C.godetiae mudou-se para C. nymphaeae, ainda que a porcentagem de esporos na inoculação inicial tenha sido de apenas 5% da primeira contra 95% da segunda. Ou seja, mesmo partindo de uma desvantagem no número de esporos, essa espécie conseguiu deslocar a outra de alguma forma. Também usaram a combinação de esporos para inocular azeitonas de duas cultivares suscetíveis ao patógeno (Hojiblanca, variedade característica da Andaluzia, e Galega Vulgar, variedade dominante em Portugal), onde o padrão se repetiu: C.godetiae apresentou maior capacidade competitiva e deslocou parcialmente a espécie C. nymphaeae. Esse comportamento ocorreu em ambas as cultivares, então foi descartado que cada uma se especializou na atribuição de cultivares. “Ficámos surpreendidos com este resultado, porque a lógica é que houve uma especialização na cultivar maioritária da região ou que havia uma característica que permitisse a este fungo dominar em Espanha, deixando o outro de lado e vice-versa. em Portugal” analisa o pesquisador Juan Moral, coordenador do trabalho.
Os resultados da análise da relação entre as duas espécies, tanto na placa de Petri quanto no fruto, independentemente da cultivar, mostram que C.godetiae é muito mais competitivo do que outras espécies. Além disso, era muito mais resistente ao cobre, que é o principal fungicida nos olivais de ambos os países. No entanto, a espécie mais competitiva não é a que domina em Portugal. “É difícil explicar o porquê. C.godetiae não se mova para C. nymphaeae em Portugal, porque seria normal segundo a teoria clássica da ecologia da competição”, observa Moral. “Isso pode ser devido ao que é chamado em ecologia efeito prioritário (efeito prioritário); ou seja, quando uma espécie se estabelece em um nicho e se torna forte, é muito difícil movê-la”. Outra questão levantada pelos pesquisadores é se essa mudança ocorre (“vemos uma foto parada da população”) ou se, ao contrário, outros fatores desempenham um papel (capacidade de afetar as ervas daninhas).
Este estudo permitirá saber quais populações deslocam outras e dar melhores recomendações na escolha de fungicidas.
Desta análise, para além de um aprofundamento das relações entre espécies que permitirá no futuro saber quais as populações maioritárias que deslocam as outras e dar melhores recomendações na seleção de fungicidas, obtém-se também um protocolo eficaz para simular os ciclos de interação entre as espécies de Colletotrichum em azeitonas, mas também em outras frutas.
A antracnose da oliveira, também conhecida como azeitona ensaboada devido ao aspecto que deixa nos frutos infectados, que acabam por apodrecer, é a doença mais importante da oliveira porque reduz a colheita e tem um impacto negativo na qualidade do azeite, causando perdas económicas significativas.
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