Cidade de Charlotte
Lisboa, 10 de junho (EFE).- Portugal entrou este ano na lista exclusiva de países com produção própria de trufas de verão, um passo possível graças a um menino de 12 anos e a um apaixonado chef nepalês que vive em Lisboa há trinta anos. para este ingrediente raro.
A descoberta vem da mão de Tanka Sapkota, gestor de vários restaurantes de renome na capital portuguesa, que, depois de várias décadas a trabalhar com este cogumelo importado do estrangeiro, decidiu mover céus e terras para o encontrar em terras portuguesas.
Esta trufa “é muito boa” e tudo indica que há “muita” dela no país, disse o chef à EFE, que não quis aceitar que não houvesse em Portugal se não conseguisse encontrar prova definitiva, uma vez que considerou que os estudos realizados até à data eram insuficientes.
Explorou o país durante cinco semanas consecutivas em 2023 e investiu dezenas de milhares de euros nesta causa, nomeadamente com cães de busca trazidos de Itália.
Apesar das tentativas, não foi ele quem encontrou esse ingrediente na natureza, mas sim um menino de 12 anos, que viu algo estranho no chão em abril passado e informou ao pai. Suspeitando que fosse uma trufa, enviaram para Sapkota.
Ao recebê-lo, o cozinheiro não teve certeza se era mesmo o cogumelo, pois não sentiu cheiro de nada, então decidiu consultar três universidades, que confirmaram a descoberta.
Sapkota decidiu ir ele próprio lá com cães e, em poucos dias, ele e uma equipa de investigação localizaram vários locais em Portugal onde se encontram trufas negras de verão, incluindo o concelho de Alenquer (no distrito de Lisboa).
“Parece que há trufas negras em abundância em Portugal, porque se com um cão e duas pessoas encontramos quatro locais em oito dias, isso significa que deve haver muito mais trufas em Portugal”, afirma o famoso chef, cujo restaurante A Forno d’Oro é uma das melhores pizzarias da Europa, segundo o ranking 50 Top Pizza.
A descoberta, além da área científica, dinamiza também a área económica, já que o quilo deste produto pode atingir os 250 euros, segundo os seus números.
Pelo que Sapkota observou, a época de verão das trufas em Portugal é mais precoce do que noutros países vizinhos, abrangendo principalmente os meses de abril e maio.
O que conseguiu arrecadar este ano é servido este mês noutro dos seus restaurantes, o Come Prima, num menu por tempo limitado com pratos aparentemente simples mas saborosos, onde a trufa de verão portuguesa é a estrela.
Sapkota garante-nos, ao cheirar várias vezes uma das que recolheu, que esta trufa é melhor que os exemplares adquiridos em Itália.
Seu objetivo é continuar explorando o terreno e se preparar para o próximo ano, onde espera ganhar mais quilos para trabalhar em seus restaurantes.
Da Universidade Portuguesa de Évora, a bióloga Celeste Santos e Silva, participante neste trabalho, explica à EFE que ainda não sabem que variedade de trufa de verão é, embora suspeitem que pertença ao grupo “Tuber aestivum”.
“Para nós é uma grande descoberta. Ainda não sabemos se nasceu espontaneamente ou não. Os donos (do terreno) garantem que não compraram plantas inoculadas”, diz Santos e Silva, que afirma tratar-se de uma ano “excepcional”, com condições “muito favoráveis” para os cogumelos gerarem frutos comestíveis.
Estas circunstâncias, especifica, “podem ter favorecido o desenvolvimento de um fungo que já existia mas que não dava frutos ou produzia muito poucos frutos”.
Resta saber que outros produtos cobiçados poderão existir em Portugal que ainda não foram revelados, dado que só em 2024 é que este país atlântico descobriu que possuía tal iguaria. EFE
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