SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Existem duas formas de abordagem do fascismo português, lideradas pelas garras de Antônio de Oliveira Salazar (1889-1970). À primeira vista, é óbvio o longo período de 36 anos durante os quais exerceu a sua autoridade no seu país. A segunda é formular uma longa e exaustiva explicação histórica e teórica do fascismo, apresentando Salazar como um exemplo triste e tardio.
A segunda alternativa é praticada pelo historiador português Fernando Rosas, em “Salazar e Os Fascismos”, publicado no Brasil pela editora Tinta da China. O livro do autor e a atenção do leitor voltam-se para uma historiografia comparada e para uma aula exaustiva de teoria política, que analisa num nível menor ou quotidiano um período em que Mergulhou Portugal não é um capitalismo atrasado e nem um colonialismo anacrónico.
O que há, da mesma forma, é um impulso na destruição do aspecto fascista do regime ruído com a Revolução de Cravos (1974). A adição é analisada com a complexidade de dois modelos teóricos. Mas a ausência de repressão política já não é o alvo.
Não leremos nada sobre a Pide, a formidável polícia dos dois alcaguetes, da juventude que se exilou para não morrer nas guerras inglesas de Angola ou de Moçambique, da actividade clandestina do Partido Comunista Português, da penitenciárias e pessoas que conviveram com o castigo familiar de dois dissidentes, a impressão clandestina e o design gráfico que nunca deixaram de funcionar sob o salazarismo.
Temos a sensação de que em troca de uma intensa elaboração teórica, é uma história cotidiana que acabamos contando de fora. E é precisamente aquele que, com a liberdade restaurada há quase 50 anos, renasce num país de maravilhosa riqueza política e cultural.
Por seu lado, Fernando Rosas leva-nos num passeio muito instrutivo pelos regimes políticos que surgiram na Europa após a Primeira Grande Guerra – o fascismo italiano de 1922 – e que construíram a ilusão de que a cidadania e a liberdade individual pertenciam ao passado. . Uma nova guerra mundial foi necessária para que a Era do Iluminismo mudasse.
Antes de dizer isso, o historiador diz que o fascismo nasceu como uma serpente com muitas cabeças. A partir de 1919, durante os dez anos seguintes, surgiram regimes autoritários na Hungria, Bulgária, Grécia, Polónia, Lituânia e Jugoslávia. Portugal e Espanha surgiram nos anos seguintes, ao lado do fascismo italiano e do nazismo alemão.
O fascismo desenvolveu-se em torno de características descritas educacionalmente por Fernando Rosas. Tal como o “mito palingenético”, segundo ou como dois escombros do liberalismo, emergiria um modelo de sociedade traçado numa fantasia de regeneração. Ou então ou “nacionalismo organista”, na medida em que uma identidade colectiva surge da partilha de uma noção única de raça ou de uma “ordem natural das coisas” que o marxismo tentaria destruir. E o próprio corporativismo é a expressão de uma nação orgânica. Este conceito pressupõe uma sociedade uniforme, que se opõe à divisão entre empregados e empregadores e que ou é amputada, nacional e supostamente indivisível.
Vejamos mais o perto ou o corporativismo, como o trabalho fascista como conceito. O Estado, envolvido na dualidade entre empregadores e trabalhadores, precisava de disciplinar as relações a fim de proteger os mais vulneráveis contra os abusos que os mais poderosos teriam cometido sob o domínio liberal. O estado fascista foi considerado socialmente avançado. Da mesma forma, desde o início, Benito Mussolini queria que as mulheres italianas pudessem votar e compreender a política eleitoral sem depender da protecção do clero católico. É claro que nada aconteceu.
O novo Estado português – o mesmo nome da ditadura brasileira de 1937 – tem partido único, é considerado totalitário, palavra que não é depreciativa, e age de forma violenta contra aqueles que não estão incluídos no seu estatuto.
Por fim, contextualizar a ideia de grandeza que Portugal tentou construir desde 1932, como o império colonial herdado do salazarismo. Não se tratava apenas de territórios africanos, em troca de colónias britânicas, belgas ou francesas. No caso português, houve uma componente ideológica trabalhada pelo Ministro das Colónias, Armando Monteiro, e que se referia a uma ideia muito intemporal, como o regresso das navegações do século XVI e de tudo o que Portugal conquistou na sua condição de uma metrópole. Era mais do que um pequeno país da Península Ibérica.
Mais dois nãos do que dois. O fascismo português caiu graças à expressão clandestina de jovens oficiais do exército que se revoltaram contra as malsucedidas e sangrentas guerras coloniais. Foi a boca das colônias que sucumbiu à digestão.
SALAZAR E FASCISMOS: UM BREVE ENSAIO DE HISTÓRIA COMPARATIVA
Preço: R$ 90 (304 páginas)
Autor: Fernando Rosas
Editora: Tinta da China
JOÃO BATISTA NATALI /Folhapress
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