ZARAGOZA, 27 de agosto (EUROPA PRESS) –
O sisão está listado, desde 2022, na categoria “Em Perigo” do Catálogo Aragonês de Espécies Ameaçadas. Sua situação piorou desde que foi incluído nesta categoria em nível estadual.
Nos últimos anos tem-se assistido a uma aceleração da transformação e degradação da paisagem da estepe aragonesa, o que leva também ao desaparecimento das espécies que a habitam. Embora o sisão seja um dos mais ameaçados, não é o único, pois vemos cada vez menos aves como perdizes ou codornizes.
O último censo publicado do Sisão foi realizado em 2016, estimando-se que existiam então 1.804 machos em Aragão, a maioria dos quais (1.201) concentrados na província de Saragoça. Os estimados 452 homens em Teruel e os 151 em Huesca completam a população total aragonesa.
Embora possa parecer muito, essas cifras resultam alarmantes para os cientistas porque supunham uma diminuição de 64 por cento em relação ao número de machos estimado em Aragão em 2005. Fazendo uma analogia com a população humana, se tratava de ter perdido um 64 por cento só 11 anos.
“Este declínio é considerado generalizado em toda a geografia aragonesa, e já em 2016 foi considerado extinto -ou quase extinto- na faixa mais setentrional da Hoya de Huesca, no sopé da Serra de Guara, Cinco Villas, Litera e Cinca Medio, ” disse o delegado da SEO/BirdLife em Aragão, Luis Tirado.
Além disso, acrescentou que “nessa altura já se reportava a situação de extinção local ou desaparecimento iminente em Monegros, no resto da Hoya de Huesca e nos Llanos de la Violada, nos Llanos de Gurrea e Tardienta, no metade norte da Região Centro, Campo de Belchite, Campo Romanos, no Baixo Aragão e na Comunidade de Calatayud”.
SISON SISON ATUAL E SUAS AMEAÇAS
“Como se não bastasse, os factores que impulsionaram este declínio não só não diminuíram como se intensificaram entre 2016 e 2023”, lembrou Luis Tirado.
Os habitats óptimos para a reprodução do sisão são os agrossistemas baseados em modelos de exploração de baixa intensidade e pastoreio extensivo, ameaçados por alterações profundas na paisagem.
A intensificação de certas práticas agrícolas, bem como os constrangimentos impostos pela Política Agrícola Comum (PAC) reduziram muito as áreas de pousio, sendo que o pouco que resta é sujeito a uma gestão intensiva através de aragem ou aplicação de herbicidas na primavera.
Isto implica a perda de habitats de nidificação e alimentação para muitas espécies animais, incluindo o sisão. Os limites e terrenos baldios também foram reduzidos ao mínimo devido à consolidação de terras.
Em algumas zonas de Saragoça, as culturas herbáceas das zonas áridas são substituídas por culturas lenhosas como amendoeiras, oliveiras, vinhas e noutras por culturas de regadio, habitats inadequados para aves estepárias.
Um exemplo seria a transformação de mais de 10.000 hectares da área irrigável de Monegros II, que levou o sisão e outras espécies à beira da extinção no sul da província de Huesca.
TRANSFORMAÇÃO DE HABITAÇÃO EM ARAGÃO
Nos últimos anos surgiu uma nova transformação do habitat que o sisão tem de enfrentar: a implementação massiva de projetos de produção de energia a partir de fontes renováveis – eólica e fotovoltaica – e respetivas infraestruturas associadas.
Ambos os tipos de infraestruturas, quando a sua localização não é devidamente planeada, podem provocar a destruição do habitat onde estão instaladas, reduzindo e fragmentando áreas de reprodução, veraneio ou invernada, segundo refere a SEO/BirdLife em comunicado de imprensa.
Embora não existam censos atualizados, “é razoável pensar que as aglomerações de Campo de Cariñena, Campo de Belchite e Valdejalón se encontram numa situação ainda pior do que em 2016”, devido à recente proliferação de parques eólicos e centrais fotovoltaicas em esses territórios.
O grande número de projetos em curso ou em estudo compromete também a viabilidade das populações de sisão do Baixo Aragão, Andorra-Serra de Arcos, Comarca Central, Hoya de Huesca, Comunidade de Calatayud, Monegros e Baixo Cinca. O mesmo se aplica a algumas grandes explorações de suínos instaladas nos últimos anos nos leks de abetarda, provocando o seu desaparecimento.
O sisão também é sensível à perda de qualidade do habitat devido à proliferação de linhas eléctricas, que em Aragão estão associadas a estes projectos de produção de energias renováveis ou a criadouros.
Da mesma forma, o Livro Vermelho das Aves de Espanha salienta que outra ameaça à espécie é a inacção das administrações públicas, que se reflecte na falta de designação de áreas protegidas – em particular as ZEPAs da rede Natura 2000 – e pela não -aplicação de medidas específicas para a sua proteção, como a ausência de aprovação e, sobretudo, de execução de planos de recuperação ou conservação.
O PEQUENO BEBÊ À BEIRA DA EXTINÇÃO
Os cientistas salientam que a soma das ameaças que o sisão enfrenta leva-o a uma situação compatível com um cenário de extinção de curto prazo na maior parte da sua área de distribuição em Aragão, e semelhante ao que se observa noutros países europeus. e África, onde a espécie já desapareceu ou está em vias de extinção.
Segundo Luis Tirado, “se não forem tomadas medidas urgentes para salvá-los, as principais estepes de Aragão tal como as conhecemos desaparecerão dentro de alguns anos, e com elas perder-se-á boa parte da sua fauna típica e exclusiva”, como desta espécie, e também perderá uma paisagem, que é uma das principais atrações turísticas da comunidade autónoma”.
OBJETIVO PRIORITÁRIO DO PROJETO LIFE AGROESTEPAS IBERICAS
Através do projeto Life Agroestepas ibéricas desenvolvido pela SEO/BirdLife em Los Monegros em Aragão, Extremadura e Portugal, “pretendemos demonstrar que agricultores, criadores e conservacionistas da natureza podem trabalhar juntos para o futuro destes sistemas agro-estepe e aves protegidas”. como o sisão, que aí encontra o seu último refúgio na Europa”, admitiu Tirado.
Na sequência do projecto de promoção da conservação dos sisões e dos agricultores de sequeiro, a SEO/BirdLife pretende propor à administração um modelo concertado de boas práticas em ambientes agro-estepes, a integrar nas políticas agrícolas e de desenvolvimento rural, compatibilizando a gestão agrária com a biodiversidade em Los Monegros.
O projeto é coordenado pela SEO/BirdLife e cofinanciado pela União Europeia através do programa LIFE Nature. Conta com parceiros beneficiários como a Associação Agrária de Jovens Agricultores (ASAJA), a Junta de Extremadura através da Direção Geral de Sustentabilidade e da Direção Geral de Agricultura e Pecuária, o Centro de Investigação Científica e Tecnológica da Extremadura (CICYTEX), o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e da Liga para a Proteção da Natureza (LPN).
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