Que consequências teve a transição espanhola no funcionamento atual da democracia? Portugal oferece um ponto de comparação baseado no grau de inclusão.
Há algum tempo, a Espanha luta para se olhar no espelho. Durante a crise econômica, no calor do 15-M e da perda de prestígio de políticos e instituições, houve um profundo debate sobre as mudanças que o país precisava, tanto a partir de uma visão que desafiava o chamado “regime de 78” quanto outro liberal e regenerador. Da primeira visão surgiu o Podemos, da segunda Ciudadanos. Foi um período de introspecção, em que intelectuais, acadêmicos, jornalistas e políticos tentaram responder à questão de por que a Espanha passou de um país invejado na Europa a um dos mais atingidos pela crise econômica e política. Aos terríveis dados sobre desemprego, pobreza, desigualdade e cortes (em serviços sociais, infraestrutura e pesquisa), foi necessário somar uma ladainha de escândalos de corrupção que contribuíram decisivamente para o desânimo coletivo. O colapso do sistema partidário tradicional, as mobilizações massivas de vários grupos e a abdicação do rei Juan Carlos I pressagiavam que a Espanha caminhava para mudanças profundas.
Com o agravamento da crise constitucional na Catalunha, o grande debate é abreviado. Houve então uma espécie de cerrar fileiras e uma orgulhosa exaltação da democracia espanhola. Quantas vezes ouvimos nos últimos meses, em resposta à deslegitimação proveniente do movimento de independência catalã, que nossa democracia é comparável às mais avançadas do continente. Diante do que aconteceu nos momentos mais difíceis da crise, quando tudo foi revisto, hoje o exame crítico do país é muitas vezes percebido como inadequado, desleal ou até antipatriótico.
Nessas circunstâncias, o acadêmico norte-americano Robert Fishman rompeu a bolha complacente em que o país está imerso. Fishman combina um profundo conhecimento da política espanhola e portuguesa com…
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