Certas criaturas do bioartista Gilberto Esparza nos convidam a enfrentar crises ambientais. Através as máquinas que constrói, ele se recusa a imaginar o fim do mundo. A sua obra alerta-nos para a degradação ecológica que já está a corroer o nosso presente, contra a qual nos cabe agir.
De sua oficina em San Miguel de Allende, inspirada na observação de ecossistemas e na colaboração com a comunidade científica, Esparza constrói organismos simbióticos com bactérias ou lixo eletrônico dispostos a testar soluções para nosso desastre ecológico em pleno capitaloceno.
Por exemplo, ele criou um ser mecanizado com a aparência de um inseto gigantesco que vagueia pelas margens de rios poluídos. Isso é plantas nômades, uma máquina que suga a água suja de um ecossistema doente e a metaboliza com os microorganismos que ali recolhe. Ele biorobô usa elementos tóxicos como combustível para seguir seu caminho e produz água de melhor qualidade para a vegetação que faz parte de seu próprio corpo.
Entre as obras de Esparza estão também uma mosca com asas de acetato, parasitas urbanos feitos com lixo tecnológico, além de plantas que produzem energia para realizar sua própria fotossíntese. Você adicionou recentemente à lista uma cidade marinha que atrai vida com eletrólise e sons.
O bioartista é natural de Aguascalientes e estudou na Escola de Artes Plásticas da Universidade de Guanajuato, onde rapidamente descobriu o interesse pela tecnologia. Por um tempo ele experimentou desempenho e sons. Chegando na Cidade do México, com o artista Marcela Armascoincidiu com a comunidade de arte eletrônica no México: Arcanjo Constantino, Ivan Abreu E Arthur Henry Garfo. Com eles, envolveu-se em projetos de arte sonora e “estranhas com eletricidade”, diz.
Atualmente, desenvolve os seus projetos estudando diferentes nichos ecológicos, muitos dos quais marcados por pegadas humanas: resíduos nas cidades, poluição das águas, devastação no oceano. Identifica atores e fenômenos biológicos para depois propor meios de intervir e ajudar. Os resultados podem variar e vão desde a reflexão até a restauração da vida.
Bioarte, onde a prática da espalhar, é um conceito que surgiu na primeira década do século XXI para designar um movimento artístico que combina arte, biologia e tecnologia. Suas origens remontam ao século XX, quando tecidos e células passaram a ser objeto de ideias de artistas, motivados pelos enormes avanços da biologia, medicina, física e engenharia.
Como a bioarte compartilha interesses com a ciência, ela tende a adotar seus conceitos. Dalí, por exemplo, incorporou referências ao DNA em sua pintura a partir de 1957. Anos depois, com a consolidação da arte que utilizava a genética, a portuguesa Marta de Menezes, por meio de microcautério, desenvolveu padrões únicos nas asas de borboletas, feitas de células e sem aditivos.
Não é por acaso que neste tipo de arte são recorrentes as referências e intervenções sobre extrativismo, informação interestelar, viagens à Lua, relações interespecíficas, ameaças ao mundo marinho e sobretudo alterações climáticas.
Bioarte para o presente
Esparza é cuidadoso ao fazer seu trabalho. Ele não quer cair em reivindicações que acabem afetando mais o ecossistema. Ele não está interessado em organismos mutantes. Sua aposta é na biodiversidade. Você deseja ativá-lo sob certas condições “para que ele possa fazer o que sabe fazer”.
Alguns projetos, diz ele, exigem um maior aporte de tecnologia, outros podem ser resolvidos com desenhos. De qualquer forma, ele compartilha, seu objetivo não é usar a tecnologia como decoração, mas investigar plataformas e técnicas para comunicar impactos sobre a vida na Terra.
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