“Agora começa a temporada de homenagens”, brinca o Estradiense ao falar sobre o que nos espera nesta temporada. Depois da grande atuação na sua última Volta a Portugal, Marque esteve entre os escolhidos para o Jornal de Noticias, mas acabou por não ir. “É melhor para um jovem ir para lá do que eu”, disse ele. Desta forma, um dos nomes mais importantes da história do desporto Estrada descende da bicicleta. É um bom momento para conversar com ele sobre seu passado, seu presente e seu futuro, com um projeto em mãos que em breve será conhecido.
– Toque em recuar e, portanto, olhe para trás. Como Álex Marque entrou no ciclismo? Algo deve ver que seu pai tem uma loja de bicicletas.
-Tudo influenciou. Também o fato de ter passado longos períodos em San Xorxe, em Pernaviva. Naquela época a bicicleta era meu meio de transporte para ir a todos os lugares. Então influenciou o meu pai ter a loja porque eu comecei a sair com os clientes e com o pessoal do clube de ciclismo. Aos poucos, comecei a ver que tinha boas qualidades. Depois disso, Ricardo Terceiro fez parte da equipe de ciclismo esportivo e nos incentivou. Na primeira corrida que participei, cheguei em último. Ele não conseguia nem andar com riachos. Lembro que quando consegui colocá-los, os outros já estavam meia volta atrás de mim. A partir daí, melhorei. O próximo eu já ganhei e outros depois. Vi que a categoria era um pouco curta para mim. Foi então que decidiram fazer parte da equipa de Elite/Sub23, com Oliveira no comando. Não que ele tenha vencido muitas corridas nesta fase, mas ele foi muito consistente. Ele sempre terminava entre os cinco ou dez primeiros.
–Como foi a transição do Club Cycliste Estradiense para o ciclismo profissional português?
– Lá me ajudaram entre Oliveira e Ezequiel Mosquera, que na época estava no Boavista e assinou com eles. A partir daí, tive que ir passo a passo para melhorar.
-O que encontrou em Portugal seria um mundo totalmente diferente do que estava habituado.
-Sim, no primeiro ano que competi, fiquei impressionado com a rapidez com que eles foram. O bom foi a questão de se tornarem profissionais. Para mim, foi como realizar um sonho. Mas a verdade é que, quando cheguei, pensei que não ia durar muitos anos neste mundo. Vi que ainda teria que progredir muito para estar com quem está na frente. Comecei a ajudar colegas que na época discutiam, como no caso de Ezequiel. Eu estava aprendendo um pouco com todas as equipes que cruzei de baixo. Estar em Tavira foi quando começaram a surgir mais oportunidades para lutar por corridas. É quando você tem que ser bom para tirar proveito disso. Foi um ponto de virada.
-Também teve bons anos como escudeiro de outro galego, David Blanco.
-Sim, com o David ganhamos várias Voltas em Portugal. Tínhamos uma grande equipe, construída do zero, mas também tínhamos uma atmosfera espetacular. Acho que eles estavam entre os meus melhores em termos de atmosfera na equipe. Também cresci com a equipa, até 2012. Foi um dos meus melhores anos, altura em que comecei a acreditar que podia mesmo lutar para vencer o Volta em Portugal. Nesse ano ganhei o contra-relógio e, embora tenha perdido tempo devido a um acidente em Mestre que tive que trabalhar, terminei em décimo primeiro.
–E no ano seguinte veio a vitória na Volta em Portugal. Como você se lembra dessa corrida?
–Desde o início, eles deram ao Gustavo e a mim como favoritos e dividimos a liderança dentro da equipe. Eu realmente não pensei em ser capaz de lutar pela vitória. No entanto, quando passei pela Torre sem perder muito tempo e depois pela Nossa Senhora da Graça, vi que tinha opções. Só nos restava o contra-relógio final, mas Gustavo tinha muito espaço. A minha ideia era lutar pela vitória na etapa porque o Gustavo tem um nível no contra-relógio. Fui ao máximo e quando cheguei à meta e vi que tinha vencido, foram muitas sensações. Por um lado, ele realizou um sonho, mas por outro, Gustavo também merecia. Eu acho que Volta foi uma coisa muito emocional. Foi o momento mais importante da minha carreira esportiva.
-Estamos a falar da maior conquista do ciclismo profissional português.
-Sem dúvida. Em tempos como esses, vêm à mente aqueles primeiros dias, quando você os viu passar tão rápido e duvidou que valia a pena. É então que você percebe que qualquer coisa pode ser alcançada com esforço. O único freio que podemos colocar é a mente. Tudo pode ser alcançado.
No entanto, ele teve pouco tempo para se divertir. Logo depois, esta investigação veio devido a resultados anormais.
-Foi um momento da minha carreira que me marcou, principalmente porque eu sabia que estava tudo em ordem. Nesse sentido, estava tranquilo, pois havia comunicado tudo aos comandos. Agora olho para trás e percebo que foi tudo um desleixo. Em outros esportes, as pessoas se esgueiram no dia anterior, ganham corridas ou jogos e se tornam heróis. No entanto, naquela época, eles me trataram como um mercenário. É um padrão duplo que existe dependendo do esporte. No final, provei que ele era completamente inocente. O maior prejuízo ocorreu em nível pessoal, com momentos difíceis para a família. Também valeu a pena aprender para mim.
“Você já pensou em desistir?”
-Sim, naqueles momentos claro que passou pela sua cabeça deixar a moto, mas eu sabia que eles tinham que concordar comigo. Se você fizer tudo dentro do marco legal, só terá que se defender. O que eu levo de tudo isso é o apoio que recebi nesses momentos. Especialmente aqui em nosso Conselho. Foi algo excepcional. Também em outros níveis, porque as pessoas perceberam que era uma injustiça.
-No meio, essa assinatura frustrada com a Movistar foi vivida. Você tem rancor de alguém?
“Não, eu não culpo ninguém. Você não pode viver no passado. Chega uma hora que você tem que virar a página. A partir daí houve um tratamento muito correto da minha parte e deles.
– Como você se lembra do seu retorno à competição após o ano branco que você teve que passar?
Eu tive que desabafar toda aquela raiva. Já na primeira corrida que fui, não ganhei aos poucos. Desde o início vimos que havia trabalho por trás disso e que ele não tinha jogado a toalha. Já no Volta subi ao pódio e estava em grande nível. Acho que este ano sem me mexer me fez perder um pouco de explosividade nas contra-relógios. No final, foi um ano sem competição e isso mostra.
-Sua carreira terminou como deveria, em Tavira e lutando com os melhores.
-Tavira é o clube do meu coração. Foi para onde eles pensaram que eu estava correndo. Sempre me trataram muito bem em todas as equipas, mas Tavira é especial. Saí, mas nunca deixamos as portas fechadas e eles voltaram para me buscar. Estava claro que queria terminar minha carreira lá.
-Ele começou tarde no mundo do ciclismo, mas no final acabou dando muito.
– Sim, foi uma vocação tardia, mas no final acho que fui privilegiado. Poder vivenciar esses 19 anos como ciclista profissional não tem preço. Estou muito grato a Portugal. Você ainda tem isso de não ter tido a oportunidade em uma equipe estrangeira porque teria aberto outras portas para mim, mas estou muito feliz com os resultados que obtive na minha carreira. Acho que deixo um registro para me orgulhar. Volta, etapa do Volta nas Astúrias, Volta à China… corridas que assisti na televisão.
– O que resta de todos esses anos?
Gostei muito do jeito que você deixou a moto. Era um dos medos que eu tinha. Eu não queria acabar me arrastando. Eu queria terminar bem. No dia seguinte ao Volta já começamos a pensar no que ele fará sem ele, mas o fato de terminar em terceiro na última etapa com quase 41 anos é algo bom. Também recebi muito carinho do público. Este aplauso foi como um reconhecimento de todos os anos que passei em Portugal. Vale mais do que qualquer vitória. Também fiz muitos amigos. Esta distância com eles e com Portugal vai ser a pior coisa para mim.
-E agora?
-Bem, já estou trabalhando em um novo projeto que ainda não posso falar muito, mas que me deixa muito animado. Será uma mudança muito grande na minha vida, mas vamos enfrentá-la com o mesmo entusiasmo do palco que já deixei.
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