Medo do maior flagelo dos citrinos assombra o setor na Espanha

o imparável espalhou-se por Portugal do inseto que carrega a cepa africana del HLB ou ‘Huanglongbing’ -também conhecido como ‘verde‘- comece de novo alertar o setor cítrico na Espanha. Esta situação, confirmada pela última auditoria da Comissão Europeia (CE) realizada no país vizinho em novembro passado, além de tranquilizadora ao excluir a presença da bactéria responsável pela doença, já alertava que as medidas implementadas pelos países vizinhos “são insuficiente para erradicar, nem mesmo para conter” o Trioza. Este facto, somado à confirmação em Janeiro da presença do outro vector desta doença em Israel -Diaphorina citri, que tem uma maior capacidade de adaptação aos climas mediterrânicos e transmite a estirpe asiática mais agressiva e a estirpe africana – “chamam em questão o futuro a médio prazo da citricultura espanhola”, alerta o presidente do Comitê de Gestão de Citros (CGC), Imaculada Sanfeliu.

A praga conhecida como “greening” está presente em mais de cinquenta países da Ásia, América, África e Oceania, onde em poucos anos devastou vastas áreas de cultivo de citros. Exemplos de sua voracidade, no Brasil, teve que arrancar 24 milhões de árvores, enquanto na Flórida causou uma redução de 23% na produção de citros entre 2005 e 2011.

Em outubro de 2021, conforme noticiado pela associação dos empregadores de laranja que reúne os principais exportadores, a primeira deteção ocorreu na região citrícola portuguesa do Algarve, em Aljezur. Um ano depois, o ‘Trioza erytreae’ colonizou cerca de 200 quilómetros da costa atlântica portuguesa mais a sul e já está a menos de 120 km das primeiras plantações em Huelva, em Ayamonte. Desde a sua detecção no Porto em 2015, o temido psilídeo estendeu-se ininterruptamente por toda a costa do país vizinho e também colonizou parte do Galiza (foi detectado antes, em 2014), Cantábria, Astúrias e a País Basco.

Em seu relatório, os funcionários da DG Saúde e Segurança Alimentar já criticaram “o fracasso das autoridades em promover ações imediatas para erradicar a praga das plantas hospedeiras em jardins privados, a menos que os proprietários cooperem voluntariamente”, bem como “o desconhecimento das parcelas onde a praga está presente”. Sabendo que o T. eritreia instalou-se ao longo de toda a costa algarvia, que é a principal zona citrícola do país – com 16.000 hectares e 370.000 toneladas de produção– mas também uma região turística com uma paisagem onde abundam as residências pontilhadas de pequenos pomares/jardins, não é difícil adivinhar que o insecto avança agora – como fez mais a norte em Portugal – para o interior, para Huelva.

Já está a menos de 120 km das primeiras plantações em Huelva, em Ayamonte.

A distância do primeiro foco mediterrâneo de D. citri encontrado em Israel não o torna menos ameaçador. E isso porque, como para o outro vetor, a principal via de entrada seria a importação de frutas das áreas afetadas, bem como material vegetal contaminado (mudas ou brotos a serem enxertados não sujeitos à quarentena). No entanto, a recente confirmação de sua presença no Vale do Hefer, em uma cidade costeira ao norte de Tel Aviv, comprova sua maior adaptabilidade – em comparação com o T.erytreae– o clima mediterrâneo, com temperaturas mais quentes.

Status da detecção de ‘Trioza Erietrae’ em outubro de 2022


Além disso, pesquisas de Instituto Valenciano de Pesquisa Agronômica (IVIA)-Universidade Jaume I e a Universidade da Flórida provaram que o porta-enxerto no qual se baseia a grande maioria das laranjeiras e tangerineiras na Espanha – o cana de limão– “é um hospedeiro extremamente favorável para o desenvolvimento e reprodução” do que se chama psilídeo asiático. tanto em Israel agora, como em Flórida e ainda mais em Brasillocal este último devastado pelo HLB e onde este vector é utilizado para disseminar a doença, o combate ao insecto baseia-se na utilização constante de tratamentos fitossanitários com produtos que, na sua maioria, são proibidos na UE e que servem pelo menos para mitigar ou retardar os danos causados ​​por bactérias Candidatus Liberibacter asiaticus. O país judeu comunicou oficialmente, em janeiro de 2022, a presença de D. citri seis meses após a sua confirmação (em julho), não há informações oficiais sobre a evolução desta praga.

Frutas cítricas afetadas pelo “greening”. Aumentar-EMV


De acordo com um estudo realizado pelo próprio CGC, que extrapolou dados sobre a progressão da doença na Flórida, a citricultura espanhola cairia pela metade em 7 anos e poderia desaparecer em menos de 15 anos se a bactéria HLB chegasse. Consequentemente, a associação insiste agora na necessidade de a CE reforçar os controlos fronteiriços ao extremo – tanto com a inspecção portuária de fruta como de passageiros, que podem também transportar material vegetal infectado – e apela à revisão urgente da estratégia comunitária sobre produtos sintéticos que, de acordo com a mais recente proposta de regulamento sobre a utilização sustentável de produtos fitossanitários, implicaria a sua proibição em vastas áreas dedicadas à produção de citrinos. “O controlo biológico, como comprovam os resultados obtidos pelo parasitóide Tamarixia dryi nas Canárias ou na Galiza, funciona e obtém resultados contra o Trioza mas, como mostra a situação em Portugal -onde também foi libertado-, este n “é não é suficiente. Perante a pior doença, é preciso ter todas as armas”, comenta o presidente do CGC, Imaculada Sanfeliu.

Em busca de soluções

o Comitê de Gestão de Citros tem esperanças baseadas em linha de pesquisa aberta no IVIA. Com efeito, o centro de Moncada -responsável pela importação do referido parasitóide da África do Sul- trabalha em conjunto com o Instituto de Biologia Molecular e Celular de Plantas (IBMCP) na obtenção de peptídeos com atividade antibacteriana para o controle do HLB; no melhoramento genético de variedades cítricas resistentes a Candidatus Liberibacter asiaticus e na edição de protoplastos cítricos usando CRISPR/Cas-9. Paradoxalmente, uma técnica de edição tão revolucionária e diferente do resto do planeta, continua sendo regulada na UE pelas mesmas regulamentações restritivas dos transgênicos. O GSC – como praticamente toda a comunidade científica – pede que esse marco regulatório também seja revisto com urgência. Caso contrário, as variedades ou porta-enxertos que se podem obter graças a esta tecnologia -na Europa ou no resto do mundo- resistentes ou tolerantes ao HLB, à salinidade, ao maior estresse hídrico… não poderiam ser cultivados no velho continente.

Filomena Varela

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