Portugal reforma a saúde pública em plena crise sem convencer o setor

Este conteúdo foi publicado em 10 de setembro de 2022 – 11:12

Paula Fernandez

Lisboa, 10 Set (EFE).- Depois de uma pandemia que colocou em xeque o sistema de saúde e de uma crise por falta de recursos que obrigou ao encerramento das urgências de muitos hospitais este verão, Portugal assume o cargo de Chefe da Saúde e lançou uma reforma do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que não convenceu o sector.

As bases do novo estatuto do SNS foram aprovadas esta semana pelo Governo, em plena transição para pasta, após a demissão no final de agosto da ministra da Saúde, Marta Temido, após um verão marcado pela crise de emergência.

Cansados ​​pela pandemia, as questões de saúde pública foram expostas este verão e a polémica sobre a morte de um bebé e de uma grávida levou à demissão de Temido, substituído pelo eurodeputado socialista Manuel Pizarro, especialista na internação de 58 anos . anos que foi Secretário de Estado da Saúde entre 2008 e 2011 e que hoje assume este cargo.

A Pizarro caberá a aplicação do novo estatuto que, nas palavras do primeiro-ministro, o socialista António Costa, constitui a “grande reforma” da saúde pública em Portugal.

O diploma substitui o que vigorava desde 1993 e tem como eixo central a criação de uma direcção executiva que coordene toda a prestação de serviços da rede pública.

Além disso, aumenta a autonomia dos centros de saúde, também na contratação de recursos humanos, e cria um regime de tempo integral para tentar atrair mais profissionais de saúde para o SNS, que será voluntário e passará a ser aplicado entre os médicos.

Ceticismo entre os profissionais de saúde

Mas a proposta foi recebida com ceticismo pelos profissionais do setor.

“Os doentes não podem esperar muito do novo estatuto”, disse à EFE Miguel Guimarães, presidente do Colégio Português de Médicos, acrescentando que os grandes problemas são a falta de capital humano e o modelo de gestão ultrapassado, burocrático e inflexível.

A falta de pessoal ficou evidente neste verão, quando muitos hospitais tiveram que fechar seus OB ERs por dias porque não havia médicos suficientes para cobrir os turnos.

Um problema que atinge todas as especialidades, segundo Guimarães, que explica que as condições de saúde pública não atraem os profissionais de saúde portugueses: “Nunca tantos médicos do SNS foram para o privado ou para o estrangeiro”.

Embora o governo esteja confiante de que o anunciado esquema de tempo integral ajudará a aliviar a escassez de médicos, as condições que esse esquema oferecerá, como lembram os profissionais de saúde, ainda não foram divulgadas.

“É preciso dar mais capacidade de resposta ao SNS e salvá-lo”, insistiu Guimarães, que defendeu melhorias nas carreiras de saúde, melhor acesso à investigação e horários flexíveis, bem como ‘a um modelo de gestão mais flexível – que não permite t necessariamente tem que acontecer para a alta administração – e mais financiamento.

“Embora tenhamos uma direção executiva que melhor coordena hospitais e centros de saúde, sem os instrumentos de financiamento e gestão necessários, não vai acontecer um milagre”, concorda o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) em declarações à EFE. Barreto.

Barreto, que reconhece benefícios como maior autonomia dos centros de saúde, denunciou a manutenção do “papel excessivo” do Ministério das Finanças, uma vez que deve aprovar os planos de actividade e orçamentos dos hospitais.

“O estatuto não vai trazer grandes mudanças, precisamos de outro tipo de medidas”, insiste.

Para o Sindicato dos Enfermeiros, o estatuto é de “mão vazia”: “Pouco se sabe como vai ser valorizado o capital humano do SNS”, criticou o seu presidente, Pedro Costa.EFE

pfm/mar/amg

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Francisco Araújo

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